sexta-feira, 11 de abril de 2014

A senhora deputada Hísula Pena é uma ganda fufa; o senhor deputado Perliano Dores, refinadíssimo e alternadíssimo paneleiro

«Algo inédito se passou recentemente na vida política portuguesa: na sequência da rejeição da lei da co-adopção, um antigo dirigente da JSD e actual militante do PSD, Carlos Reis, denunciou a “hipocrisia” de dirigentes políticos que, segundo ele, são homossexuais e votaram contra. Desvelar, neste domínio, figuras públicas (ou quem quer que seja) é algo que suscita legítimas rejeições e muitas dúvidas. Daniel Oliveira, num artigo publicado no Expresso onlineficou-se por uma categórica e total rejeição: “A sexualidade de cada um não é um tema político” e “a política não tem de entrar na cama de ninguém”. E disse mais: que ser homossexual não obriga ninguém a ser liberal em termos políticos e de costumes e é cair num logro denunciar essas aparentes contradições. Os argumentos parecem correctíssimos, mas são de um simplismo desarmante, desde logo na completa despolitização da sexualidade, como se ela se reduzisse a puros actos sexuais e gestos da intimidade.
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É com toda a veemência que temos de recusar esta ideia muito limpinha de Daniel Oliveira: “Um homossexual é apenas uma pessoa que tem preferência sexual e/ou amorosa por pessoas do mesmo sexo”. Igualmente falsa, escandalosamente falsa, é a ideia simétrica de que um heterossexual é apenas uma pessoa que tem preferência por pessoas do sexo oposto. Há boas razões para sermos contra o outing, mas nenhuma delas pode evocar o argumento de que “a sexualidade de cada um não é um tema político”. A lógica do outing é a da obtenção de uma confissão sob a forma de discurso que responde a uma injunção agressiva: “Quem és tu? Qual é o teu segredo?”. Ora, qualquer identidade é muito mais complicada e muito menos fixa (muito mais objecto de uma construção) do que aquilo que se pode inferir de uma “confissão” pública que supõe o postulado da homossexualidade imutável.
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esse silêncio absoluto de alguns políticos acerca deles próprios emerge como puro cálculo político e passa a ser objecto de representação política.
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