Sem negar malfeitorias, abusos ou crimes praticados por polícias — sim, infelizmente acontece —, sujeitos a devido julgamento, nem ignorar o direito a ressarcimento das agressões e ofensas várias sofridas às mãos daqueles por cidadãos da Cova da Moura, não consigo deixar de me enojar e sentir insultado como cliente de notícias com o fanatismo ideológico de certo jornalismo de agenda, designadamente o praticado por Joana Gorjão Henriques, Fernanda Câncio e Valentina Marcelino, em torno dos incidentes de Fevereiro de 2015 na esquadra de Alfragide/Amadora. Em cada peça que assinam não escondem, ou escondem muito mal, o que manifestamente as anima: desde logo e sempre, atacar a Polícia, diabolizando-a, ocultando ou branqueando em paralelo idiossincrasias e eventual conduta violenta ou delituosa das vítimas, angelificando-as; tratá-las maternal e sistematicamente por «jovens» faz parte da táctica de atracção do leitor, indignado ou comovido, para a causa.
Volvidos seis anos sobre os factos, transitados em julgado os veredictos, lá veio Valentina Marcelino, jamais saciada na fome de punição da Polícia, prenhe do ódio descabelado que devota a "agentes da autoridade", tomar no Diário de Notícias de ontem as dores dos eternos «seis jovens da Cova da Moura» que agora «[...] apresentaram uma queixa à Provedora de Justiça contra a inspectora-geral da Administração Interna e o director nacional da PSP, por não agirem disciplinarmente contra os oito polícias condenados, que continuam em funções. [...]»
Recordemos os «seis jovens»:
Flávio [rapper LBC Soldjah], 38 anos; Celso [rapper Kromo di Gheto], 38 anos; Bruno [rapper Timor Young Smoke], 30 anos; Rui, 29 anos; Paulo, 26 anos; Miguel, 25 anos.
Reponho, de 26.Nov.2020, "O efeito «jovem» em homens da Cova da Moura"
Recupero de 25.Ago.2019 "Os pretinhos bons, os polícias maus e a palavra jovem":
«[...]
Fernanda Câncio [6 peças aqui - ou isto aqui], irmanada com Valentina Marcelino [14 peças aqui], ambas no Diário de Notícias, e Joana Gorjão Henriques no Público [18 peças aqui], a reboque do Bloco de Esquerda/SOS Racismo/Mamadou Ba e com inevitável unção do bonzo de Coimbra [minuto 01:45, eis São Boaventura imprecando São Bento em 12.Fev.2015] lá foram urdindo e fazendo vingar desde 2015, com persistente e manipulada rotulagem etária propícia à comoção das almas sensíveis, a saga dos sempre, sempre, mas sempre tratados por "seis jovens da Cova da Moura"; jamais "indivíduos", "pessoas", "cidadãos", "moradores", ou simplesmente "homens". Para que conste: Flávio, nascido em 1983; Celso, em 1983; Bruno, em 1991; Rui, em 1992; Paulo, em 1995; Miguel, em 1996. Referindo-se a Flávio Almada, senhor de 36 anos, comenta Fernanda Câncio com desvelo pedomaternal: «A brutalidade deste relato de um dos miúdos do caso Cova da Moura é impressionante» - Twitter, 22.Set.2018. Repare-se na candura antropológica [mães, grávidas, crianças a brincar...; de homens ou rapazolas façanhudos, nem uma sombra. Afinal, Cova da Moura é um idílio de inocência, remanso e doçura feminil] das sete ilustrações, escolhidas adrede para enfeitiçar leitores incautos, com que a jornalista Câncio documenta a reportagem de quatro páginas no DN de 15.Jul.2017. Sabidona.
De resto, em nenhuma passagem dos quilómetros de prosa jornalística das três inefáveis plumitivas — Fernanda, Valentina, Joana — me lembro de ter encontrado qualquer alusão ao facto, que dou por adquirido, de o jovem Bruno Lopes, o que desencadeou o caso da esquadra de Alfragide, levar no currículo sete condenações transitadas em julgado de 2008 a 2016 e ter a correr, em Setembro de 2017, 36 inquéritos-crime [a partir do minuto 23:00]; vendo bem, um anjinho. Também "gostei" da cena, narrada por Joana Gorjão Henriques no Público de 14.Jul.2017, em que três jovens foram detidos por agentes quando estavam a fazer música num estúdio. «Um dos jovens contou que tinha vindo à porta e depois de um curto diálogo foi agredido com uma bastonada, algemado e atirado para o chão e colocado na carrinha.» Deixem-me imaginar o "curto diálogo":
Agente- Faz-se o que se deve e se pode. Uns dias mais tranquilos, outros nem tanto.
Jovem- Ossos do ofício, senhor agente. Temos de enfrentar as coisas com optimismo e calma.
Nisto e sem dúvida por isto, o agente saca do bastão, pumba no jovem, etc., etc.
Escreve Fernanda Câncio no lide da tal reportagem, sem aspas nem atribuição de autoria (Sérgio Godinho): «A sede de uma espera só se estanca na torrente.» Anoto a coincidência de, quando necessita de exibir alguma erudição literária, ser ao mesmo mantra — conhecerá outro? — que recorre António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, primeiro-ministro. Já aqui falei disso.
Sem favor, considero Fernanda Câncio entre os jornalistas que mais bem redigem em Portugal, pese não saber como se escreve retaguarda [ela pensa que é rectaguarda, coisa que nem antes do teratológico AO1990 era]. Mas, depois da extensa e — santa ingenuidade minha! — tardia compreensão do conúbio com José Sócrates numa altura (2001-2011) em que eu apesar de tudo admirava Sócrates e votava no PS, partido que hoje tomo por caldeirão de incestuosa imundície, e acreditava na isenção/desinteresse pessoal do que a jornalista escrevia no DN, não posso deixar de achá-la, também, uma das personagens mais desonestas que conheço e sigo na comunicação social portuguesa. Não lhe perdoo aquilo com que me fez amiúde concordar e vez por outra entusiasmar [e não, não falo de figos]. A esta distância, torna-se-me até desafiante especular acerca da muito presumível influência desta codiciosa e esperta paladina das "causas fracturantes" no ideário e na materialização de políticas por parte da criatura horrenda e mendaz — repartiam o coração sem que isso lhe toldasse a deontologia ao defender-lhe o nome (veja-se, entre múltiplos exemplos, este desavergonhado "J'accuse") e a gabar-lhe dia sim, dia sim, a governação — que certo dia recomendou aos portugueses que não deixassem de ir ver «o filme que se chama Milk, presumo, e fala da biografia de um dos primeiros políticos assumidamente homossexuais».
Câncio, desonesta ... e nem sempre fiável. ******** Fernanda Câncio: «Tenho a mania do rigor. Não me passa.» - Twitter, 16.Dez.2017
«foi criada, em 1996, na sequência do horrível caso da decapitação no posto da GNR de Sacavém, a Inspecção-Geral da Administração Interna, para investigar casos de ilegalidade e de violência nas forças de segurança» - Fernanda Câncio, DN, 22.Jul.2018
Já agora,
Inês Pedrosa: «Houve um caso em 95 de um polícia que decapitou um cidadão numa esquadra, em Sacavém» - "O último apaga a luz", RTP 3, 25.Jan.2019
Há, portanto, que agregar as amiguinhas Fernanda e Inês [CCB, Lisboa, 08.Jun.2010], na contrafacção fervorosa da realidade, à desonestidade insigne de José Saramago e Clara Ferreira Alves.
Já em 31.Mar.2018 Ricardo Araújo Pereira molhara na fantasia o bico desonesto, trocando dessa vez Sacavém por Santarém: «Lembro-me de uma vez, numa esquadra em Santarém... Uma vez, numa esquadra de Santarém, eles serraram a cabeça de um desgraçado.» Lembra-se mesmo? *****
Já em 31.Mar.2018 Ricardo Araújo Pereira molhara na fantasia o bico desonesto, trocando dessa vez Sacavém por Santarém: «Lembro-me de uma vez, numa esquadra em Santarém... Uma vez, numa esquadra de Santarém, eles serraram a cabeça de um desgraçado.» Lembra-se mesmo? *****
«Comecemos por exemplo, já que falamos da esquerda, com uma frase célebre atribuída a Lenine: 'Proletários de todo o mundo, uni-vos.' Ser proletário, parece, é uma identidade, certo? E uma identidade que deve levar, de acordo com o apelo de Lenine, a que todos os que assim se identificam se unam para, claro, lutar pelos seus direitos.» - Fernanda Câncio, DN, 27.Jul.2019
Azar, doutora. A frase é do Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, e nem é bem assim. «Proletários de todos os países, uni-vos!» Certo? Claro.
***** Sacavém, terça-feira, 07.Mai.1996 - «[...] Carlos Rosa, 25 anos, roubava para alimentar o vício da droga. Acabou apanhado pela GNR e levado ao comandante que lhe encostou o cano da arma à cabeça e lhe berrou mais uma vez ao ouvido para o intimidar. A pistola de José Santos fez fogo no calor do interrogatório e, enquanto Samuel omitiu o crime, Castelo Branco ajudou a esconder o cadáver – embrulhado num cobertor e levado de carro para um descampado na Quinta da Apelação. O sargento Santos usou uma faca de mato para cortar o magro pescoço de Carlos Rosa, até o decapitar. Deixou o cadáver coberto com ramos e levou a cabeça de volta para o posto onde, com uma chave de fendas, tentou tirar a bala comprometedora. Não reparou que a munição atravessou o crânio da vítima e se foi alojar numa porta de madeira. Horas depois, o sargento abandonou a cabeça em Chelas, Lisboa, atirou a faca ao rio Trancão e deitou o cobertor ao Tejo. O esforço foi em vão: a 16 de Maio, dez dias depois, um pastor encontrou o cadáver. [...]».
Insista-se, para desencanto do contrabando noticioso activista: ninguém decapitou um cidadão dentro da esquadra.
Apre!
[...]»