sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Conversa com Vítor Gaspar

Manhã cedo, Posaconazol* tuitou:
«Vítor Gaspar é um tipo muito interessante e foi parte fundamental de um período que marcou Portugal. Daria uma grande entrevista, mas a entrevistadora conseguiu não a fazer.»

Não integrando o entorno cúmplice ["inner circle", em português contemporâneo] de Posaconazol — Deus me livre —, tive de deslindar por conta própria quem entrevistou Vítor Gaspar, onde e quando.
Cheguei lá rápido:

Posaconazol acha que a entrevistadora falhou. Eu acho que Posaconazol não terá gasto o tempo mínimo necessário para ler a conversa inteira. Toda a gente sabe que Posaconazol lê pouco. Quando muito, passou pela entrevista uma oblíqua rápida, preconceituosa e displicente.
Pois eu, que embirro com Maria João Avillez e não morro de amores por Vítor Gaspar**, gostei.
Dentre outras passagens, respigo:
«[...]
No centro da “Alegoria” de Lorenzetti podemos ver 21 cidadãos que passam uma corda entre eles. Se olharmos mais de perto, percebemos que a corda une dois fios e que cada um deles parte de um dos pratos da balança da Justiça. E se seguirmos a corda no sentido oposto vemos que está solidamente atada ao pulso do governante. Este é, de resto, a figura dominante do quadro. Mas, não obstante o seu poder e majestade, o governante está limitado pelo primado do direito e pelo interesse comum. Em 2020, os governos em todo o mundo agiram rápida e decisivamente. Nas reuniões da Primavera, o Fundo Monetário Internacional afirmou que era imperativo fazer tudo o que fosse necessário para controlar a covid-19. Mas, ao mesmo tempo, era crucial guardar os recibos. À extensão da intervenção pública deve corresponder um acréscimo de exigência, escrutínio e prestação de contas.***
[...]»

Fico mesmo em crer que tivesse esta mesma entrevista a assinatura de, por exemplo, Fernanda Câncio, sua adulada madrinha, e veríamos como Posaconazol se viria em público.
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- Afinal, em que ficamos, Plúvio?
- Mas, leitor impiedoso, quem disse que este verbete é dedicado a Posaconazol? Dedicação é outra coisa, doutro fôlego e esse gastei-o em 9 de Janeiro passado.

** Não gosto de MJA nem morro de amores por VG, sendo certo que em Dezembro de 2012 embirrava e simpatizava com criaturas que 10 anos corridos me não suscitam tanta embirração nem tanta simpatia. No caso vertente, a minha antipatia por Vítor Gaspar adoçou, a embirração por MJA mantém-se. Só não acontece a calhaus coerentes. Nem, de resto, a coerência é qualidade a que atribua grande primazia; à honestidade, sim.

*** Em tempo, 06.Fev.2021
Ali, negrito meu, uma coisa que, se bem conheço o pensamento e as trincheiras em que espingarda o comunitário, ultimamente travestido de pregoeiro da boa governação socialista, para Posaconazol não será nunca das mais importantes...
O antigo ministro das Finanças estava decerto a falar daquilo que o padre António Vieira — faz hoje 413 anos que nasceu — designaria por "accountability".