sábado, 6 de fevereiro de 2021

Dar cara aos números

Gostei de como falou anteontem o virologista camaronês John Nkengasong, director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana [Africa CDC]:

«Às 9 da manhã, hora de África ocidental, o mundo tinha registado 103 milhões de casos de Covid-19, tendo 2,2 milhões de pessoas morrido infelizmente. [...] Quando esta pandemia começou no ano passado, dizer que mil pessoas tinham morrido era muito perturbador. Hoje temo que com o grande número de mortes que está a ocorrer, isto comece a tratar-se de números e não de pessoas. Temos de continuar a recordar que se trata de indivíduos, entes queridos, irmãos, mães, irmãs, tios. Há que dar cara a estes números para que não sejam apenas estatísticas. Seria uma tragédia começarmos a normalizar estas mortes.*»

Não gostei do «recordar que se tratam de indivíduos» perpetrado na RTP pelos apedeutas do costume.

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* «Uma única morte é uma tragédia, um milhão de mortes é uma estatística.»
Muito provavelmente apócrifa, a afirmação atribuída ao Zé dos bigodes ilustra bem a vileza do nosso estado civilizacional. Estamos ainda muito assim.