domingo, 28 de fevereiro de 2021

Cronologia breve da desonestidade suprema

"Anos de Guerra - Guiné 1963-1974" é um documentário produzido em 2000 por Pedro Efe, da Acetato, em associação com a RTP, realizado por José Barahona que o disponibilizou no YouTube em 14.Fev.2021. «[...] Recolha de depoimentos de ex-combatentes ainda vivos e de imagens de arquivo possíveis.»

Ao início da madrugada de 19.Fev.2021, o inefável Mamadou Ba tuitou um excerto de 22 segundos cirurgicamente delimitado, com o ex-combatente português Marcelino da Mata, falecido aos 80 anos em 11.Fev.2021, a contar:
«Íamos fazer uma operação, entrámos na mata, encontrámos o gajo. Estava lá com o camuflado do rapaz, o relógio do rapaz, a bússola que o rapaz tinha na mão, tudo, os sapatos do rapaz, tudo vestido conforme o rapaz estava. Apanhámos o gajo, despimos-lhe a farda e fizemos-lhe a mesma coisa que ele fez ao outro: cortámos-lhe a  piça e metemos-lha na boca.»
Comentário de Mamadou Ba:
É por este tipo de gente que há tanto chinfrim? Isto diz muito de nós, enquanto comunidade.

A meio da tarde do mesmo 19.Fev.2021, o sociólogo Fabian Figueiredo, dirigente do Bloco de Esquerda, apaniguado e idólatra de carniceiros vários com destaque para o sanguinário Che Guevara, que se comprazia em fuzilar pessoalmente os inimigos, postou o mesmo cirúrgico excerto de 22 segundos, aduzindo-lhe a seguinte legenda:
Marcelino da Mata foi um criminoso de guerra e orgulhava-se disso. No vídeo podem ouvi-lo da boca do próprio.

Ao início da madrugada de 20.Fev.2021, Fernanda Câncio, jornalista e suma-sacerdotisa da religião Lux Frágil, retuitou a poia de Fabian Figueiredo com o mesmo cirúrgico excerto de 22 segundos, acrescentando:
então era isto o militar mais condecorado e tal. estou certa de q quem o louvou estava a par de tamanha franqueza. qual convenção de genebra qual quê.

Sem perder embalagem e engrenada no entusiasmo usual das suas causas muito particulares, eis a grande repórter no Diário de Notícias de 23.Fev.2021:  
«[...]
Sim, o mau gosto não tem mesmo limites*: pôr, lado a lado, umas quantas notícias a dar conta de textos antigos do actual juiz conselheiro em que este dizia o acima exposto e uma petição** para expulsar uma pessoa pertencente a mais uma minoria historicamente perseguida e silenciada - a dos negros - por ter apelidado de criminoso de guerra um ex-comando muito condecorado pela ditadura que por exemplo se gabou de ter, nos seus feitos de combate, cortado o pénis de um inimigo, metendo-lho na boca.
[...]»
Atentei nos depoimentos militares de Marcelino da Mata. Como consegue alguém encontrar-lhe ponta de vanglória ou gabarolice?
Movido pela profunda repugnância que a suprema, arrogante e concertada desonestidade dos doutores Mamadou Ba, Fabian Figueiredo e Fernanda Câncio me causou, também eu não resisto a um excerto. Mas não consigo torná-lo honesto se não usar pelo menos o triplo de segundos, 65 ao todo.  
O ex-combatente português fala de dois portugueses aprisionados por guerrilheiros do PAIGC:
«E então, não sei como é que fizeram, raptaram-nos aqueles dois soldados da companhia quatro oitenta e sete. Levaram um homem para o mato. Despiram-no. Agarraram num pau, espetaram-lho no cu até sair pela boca e puseram-no de pé. O outro amarram-no a uma palmeira, cortaram-lhe a piça e meteram-lha na boca. [...] Um dia íamos fazer uma operação, entrámos na mata,  encontrámos o gajo. Estava lá com o camuflado do rapaz, o relógio do rapaz, a bússola que o rapaz tinha na mão, tudo, os sapatos do rapaz, tudo vestido conforme o rapaz estava. Apanhámos o gajo, despimos-lhe a farda e fizemos-lhe a mesma coisa que ele fez ao outro: cortámos-lhe a  piça e metemos-lha na boca. A mesma coisa que ele fez ao tal soldado branco fizemos-lhe a ele. E fomos embora.»
 
* Sim, dona Fernanda, e a manipulação também não tem mesmo limites.
Para Fernanda Câncio a «convenção de genebra» não se aplicaria a guerrilheiros guineenses. Decerto porque esses eram criminosos bonzinhos...

Por falar em guerra, apetece-me autobiografia.
Fui incorporado no serviço militar obrigatório em 02.Out.1972, passei à peluda em 07.Mar.1975. Vinte e nove meses na patente de soldado raso. Nos primeiros seis meses estive em infantaria, especialidade de atirador. Aprendi, com muita relutância e pouco jeito, a manusear a metralhadora HK21 e a espingarda G3 no campo de tiro da Serra da Carregueira e na Amadora.
Num bambúrrio de sorte, o maestro capitão Sílvio Pleno requisitou-me em Abril de 1973 para a Banda do Batalhão de Caçadores n.º 5. Por exemplo, no histórico Primeiro de Maio de 1974 — nunca tanta e tão alegre gente andou nas ruas de Lisboa —, eu estava aqui.
Destarte me livrei da guerra e de bater com os costados em África. Sem heroísmo nem glória, sou, literalmente, um antigo «soldado de Abril». Nada que me suscite especial orgulho; apenas um tudo-nada de vaidade.

Mas de guerra mesmo, da que dói e ensandece, e de criminalidade cometida nela, quem sabe a sério é o queque leninista-trotskista-guevarista Fabian.
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«Viemos de muito longe e iremos até ao fim no combate contra a opressão, custe o que custar.»

Deixem-me fantasiar.
MB nasceu no Senegal em 1974, veio para Portugal em 1997. Porque veio, para que veio, o que o prende cá, lá com ele.
África combateu-nos, aos europeus, colonizadores ou colonos, por anos e anos até à libertação e autodeterminação. Escorraçaram-nos de sítios que não eram nossos. África está e continuará, sabem os deuses com que esforço e a que custo, a erguer-se de séculos de usurpação de território, escravatura e exploração às mãos do cristão branco bem-falante e bem armado. Mas perguntar-me-ei sempre: O que atrai tantos africanos, coetâneos ou filhos da subjugação colonial que combateram heroicamente a preferirem vir viver em casa dos que os subjugaram?  
MB, por razões de absoluta liberdade que a República Portuguesa promove e respeita, achará que faz mais falta à nova terra que escolheu e o acolheu do que à sua antiga terra, à grei a que actualmente pertence do que ao povo de que provém. Aparentemente o Senegal não precisa tanto de MB como Portugal.
Imaginemos agora que aos portugueses brancos de cepa caucasiana, incluindo Joana Gorjão Henriques, Fernanda Câncio, Joana Cabral, Daniel Oliveira ou Pedro Marques Lopes, nos dava a todos em conjunto e de uma só vez, por qualquer veneta cósmica determinada pelo livre arbítrio da individualidade digna — quem sabe se impelidos pelo velho e inelutável instinto de mostrar novos mundos ao mundo — para desertarmos daqui e irmos montar residência e nacionalidade, sei lá, numa tundra siberiana ou numa planície tasmaniana...
Antevejo Mamadou Ba a correr atrás dos nove milhões de branquelas transumantes, deixando a despovoada lezíria lusitana ao cuidado do Comité Joacine; sim, porque sem a ajuda iluminada de Mamadou o homem branco jamais se livrará do vício de oprimir, aqui e em Marte.

«ao contrário dos que me vilipendiam, o que me move é o amor» - MB, 22.Fev.2021
Ai Portugal, Portugal, que seria de nós se Mamadou Ba não te amasse tanto!?

** Esta Petição não passa de protérvia imbecil.