segunda-feira, 1 de março de 2021

Despedida do comunitário

Antes de mais, felicite-se o Diário de Notícias.

Masoquista esquizofrénico, terei lido todas as crónicas que o colunista comunitário publicou, de 26.Mar.2009, primeira, a 27.Fev.2021, última.
Por isso não espanta que, na despedida, se tenha metido comigo:
«Fica um abraço apertado a todos os que me foram lendo durante estes anos, tivessem gostado ou detestado o que escrevi.»
Situo-me nos detestantes. Todavia, e não lhe desejando o menor mal  — sou homem de paz e bons sentimentos —, deixo claro que não só repudio o abraço como repudio ainda mais que seja apertado. De resto, estranho gosto, o deste bailarino, em mandar abraços apertados a quem detesta o que escreve. 

Para não variar, a última lauda é um tratado de má escrita, piroseira e lambecusismo.  
Por exemplo,
«Sim, aquela convicção máxima de que daqui a umas semanas pode ser, afinal, uma enorme dúvida.» 
O fraco articulista não alcança que o de arromba por completo o sentido da frase.

«E sim, esta é uma casa de liberdade onde o respeito pela liberdade de expressão é sagrada.»
O respeito ... é sagrado, s.f.f!

«Neste jornal escreveram todas as grandes figuras da nossa comunidade dos últimos 150 anos, ter tido o meu nome e a minha carantonha no mesmo sítio onde toda essa gente esteve faz-me quase rebentar de vaidade.»
Todas as grandes figuras? Todas, todas mesmo? Peça, que na volta do correio o Plúvio manda-lhe rol das que nunca escreveram no DN.
Ó homem, não beba tanto! E enxergue-se, ponha-se ao nível.
No mais, não quero imaginar o que seja «grande figura» para este apedeuta do pensamento e das letras.

«Para aqueles para quem, agora sei, fui injusto ou me enganei mesmo acerca do que teriam dito ou feito, as minhas sinceras desculpas.»
Nada de novo, retórica dos melros.
Quanto às «minhas desculpas», tome lá. Quanto às «sinceras», embrulhe aí.

«Gente que trabalha muito para além do limite do exigível, que ganha muito mal para o que tem de fazer todos os dias e que só um enorme profissionalismo, extraordinário sacrifício e espírito de missão faz que este jornal continue vivo.»
Que tal «com» entre «só» e «um», seu aéreo?

«Fica um último pedido: comprem o DN e outros jornais.»

«E agora vou-me embora. Até sempre.»
Boa viagem, a mim não deixa saudade.
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Entretanto, em momentos destes assomam sempre jograis da bajulação oportunista videirinha:

«A evolução da nossa relação com o mundo. Sinto muito isso, sobretudo quando o mundo muda tanto à nossa frente. Abraço, vais fazer falta no DN.»

«Belo texto, Pedro. Já o partilhei no FB. Um abraço grato por tudo.»
PML: Obrigado, manel

«Vou sentir a tua falta no DN. Espero continuar a ler-te noutro jornal. Um beijo grande»

«Como leitora do DN, vou sentir a falta da sua opinião. Espero poder lê-lo num outro jornal (ou revista). E continuar a ouvi-lo na TSF e na SIC. Precisamos de comentadores independentes e sérios. O que não significa que esteja sempre de acordo com a sua análise e comentários.»


Mal se desculpa, finalmente, que pelo menos aos seus devotos PM Latanoprostático não tenha dado, sabemos cá se por vergonha, manha ou segredo de ofício, uma justificação, ou esboço dela, para a saída.
Se foi dispensado, redobro, enquanto leitor de sempre e assinante, os parabéns ao DN. Medida de asseio que, a meu ver, peca por manifestamente tardia.
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Espera-se que já tenha ido confirmar como se escreve e se diz «apparatchik».