sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Miau béu-béu, pozinhos de Inês, declaração de voto

Tenho igual respeito bíblico e o mesmo olhar de maravilhamento, (in)compreensão e espanto por todos os bichos, dos que mato para comer aos de que fujo para não me matarem, dos que me divertem ou com que me divirto, dos que me proporcionam sensação de bem-estar aos que aspirjo diligentemente

Dito o que, me encanita — olha o étimo, Plúvio... — o uso de repertório antroponímico para o chamamento de animais e sou preconceituoso o bastante para não votar num candidato pela razão singela de chamar Camões ao gato. 
É o caso de Rui Tavares. Cumpre acrescentar que, para piorar o apreço pela humanidade, RT tem ainda um Leôncio e um Emílio e que um vate felídeo está longe de ser o único motivo da minha embirração pelo pai do LIVRE, esquerda verde europeia, cruzes canhoto. 
Mas Camões tira-me do sério. Acho um insulto de lesa-pátria.
Sabendo nós que o mais próximo que Camões está de miar n' Os Lusíadas é na estrofe n.º 153 do canto X,  
«[...]
De Formião, filósofo elegante,
Vereis como Aníbal escarnecia,
[...]», 
apetece-me dizer a Rui Tavares: Vá chatear o Cam..., perdão, o camandro!

Recapitulando,
Rui Rio tem um Zé Albino
André Ventura, uma Acácia,
Luís Pedro Nunes, um Rufino, além de uma Melancolie, belo nome, 
Daniel Oliveira, um Tobias e um Simão, além de uma Bica, nome aceitável para cadela, 
Ricardo Araújo Pereira, uma dona Custódia, entre outras humanizadas criaturas,  não constando que, ao baptizar de Custódia a cadela, RAP pretendesse homenagear a mãe, alguma avó ou parente próxima. 
De resto, não conheço ninguém que ponha nomes da sua família ou de amigos a bichos seus e que dando aos animais nomes de gente queira com isso homenagear pessoas que estima. Porque será?...
Assim, hei-de reconhecer critério asseado a António Costa, que tem uma Naná e um Docas, ou a João Cotrim Figueiredo que tem uma Bala.

No entanto, o que me encanita — olha o étimo, Plúvio... — ainda mais, muito mais, é, no seguimento dos nomes próprios, a alucinante antropomorfização da bicheza pela aplicação à dita cuja, nos usos e costumes dos "amigos dos animais", do preceituário consignado na Subsecção V ("Lei reguladora das relações de família", artigos 49.º-61.º) da Secção II do Capítulo III do Título I do Livro I do Código Civil português.

Observo na rua uma exemplar de "homo sapiens" falando com o cão: Venha cá à mãe!  
Estremeço.

Estupefacto, acompanho numa rede social planetária a conversa pública de uma das mais graduadas jornalistas portuguesas em actividade com uma deputada municipal do Bloco de Esquerda [ex-militante do CDS-PP] de que a jornalista se intitula chocarreiramente «mãe», falando dos dois gatos da «filha» bloquista:
Que lindos os meus netinhos ... Quem é que lhes explica que não sou mãe deles? ... Ai estão tão lindos os meus netinhos. Que pena ir deserdar a mãe deles ... Gosto que lhes preserves as carinhas do olhar do público. Privacidade para as crianças, sempre. ... Não quero expor os meus filhos tão novos. Quando crescerem, logo decidem. ... As crianças estão saudáveis, a crescer bem ... É a menina ou o menino? ... O menino.
Sei que brincam. Mas se não há por ali evidência de degradação civilizacional, digam-me o que há.

Enquanto isso, Marco Paulo foi avô. Com muito orgulho.

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Agora, Inês, metralhadora daquilo que é, a quem, se pudesse, atribuiria desde já o óscar da melhor máscara do mundo no sub-ramo "Prosa ensaística".   

Na existência longa que levo de espectador de congressos, não me lembro de nenhum com tantas interrupções para aplausos. Como se a cada 30 segundos ISR emitisse uma ideia nobelizável. 
Ouvi bem; leu bem, caro(a) leitor(a) - Inês disse «dignidade». 

«protecção de todos os animais* e não apenas de alguns»
* Confio em que Inês não se estava a esquecer da vespa asiática.

«pelo menos uma pequena vila canadense foi inteiramente consumida pelas chamas»
No que dá um copipeiste de notícia brasileira...

Enfim, admirável mundo novo...

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Razões estritas de educação impedem-me, nesta altura, de votar no PS ou no CHEGA.
Ciente do arcaísmo político que representa o Partido Comunista Português que, em indetível declínio de representatividade deixou definitivamente de poder integrar qualquer comité governativo do país ou de influir nos destinos do mundo — e daí nenhum mal advirá —, votarei depois de amanhã, 30, na CDU | PCP-PEV.  Há causas pontuais avulsas em que me revejo no entendimento do PCP, designadamente na prudência com que encara a biosfera ou na perseverança com que defende — é a única organização partidária parlamentar a fazê-lo coesa e consistentemente desde o início — a sanidade da língua, contra o Acordo Ortográfico de 1990 - PCP!, PCP!, PCP! Além de que, detestando João Ferreira, simpatizo há muito com a pessoa de João Oliveira.
Voto hormonal, pois.