sábado, 23 de janeiro de 2021

Voto em V

  • Ana Maria Rosa Martins Gomes [do Partido Socialista]- Demagoga, arrivista, populista, espalha-brasas instalada. Pelas minhas sofisticadas e auditadas contas facturará mil votos por cada minuto em que o seu director de campanha não apareceu diante das câmaras. Nisso foi sábia e prudente, convenhamos. Já com Pedro Silva Pereira, n.º 3 da lista do PS nas eleições de 2019 para o Parlamento Europeu, fora o mesmo. O delfim perpétuo de José Sócrates mal se deixou ver. Esta gente será tudo menos estúpida e percebe bem quando há míldio na vinha. 
  • André Claro Amaral Ventura [do Chega]- Demagogo, oportunista, populista. O menos recomendável, a par de Marisa Matias. Não menos alucinado do que quem o apupa de fascista. Convém algum tento na língua, na história e nos conceitos.
  • João Manuel Peixoto Ferreira [do Partido Comunista Português]- Totalitário. Marxista-Leninista-Estalinista. Arqueologia ideológica.
    JF em Alverca do Ribatejo, 22.Jan.2021: «[...] aquilo que tem reconhecidamente sido uma marca desta campanha, que é a Constituição da República Portuguesa. Conhecer a Constituição é a melhor vacina contra aqueles que querem subverter a Constituição e com ela (sic) subverter o regime democrático. [...] Não pode haver maior consenso do que a lei fundamental do país. [...]»
    Importa ter presente que sendo certo que o PCP votou favoravelmente, em 01.Abr.1976, a 1.ª versão da CRP que apontava Portugal ao radioso e redentor sol do socialismo comunista, nas sete revisões — 1982, 1989, 1992, 1997, 2001, 2004 e 2005 — da sua tão acarinhada e consensual «lei fundamental» o partido de João Ferreira votou contra nas primeiras seis, abstendo-se na de 2005. Enfim, JF, sex-symbol sedutor dos crédulos e das alminhas desmemoriadas, mal informadas ou desprevenidas que não sabem, nem JF lhes diz, que parte substantiva do livrinho/texto com que esgrimiu na campanha não é benquista pelo partido a que pertence. Oportunismo e hipocrisia.   
  • Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa [PSD/CDS]- Tudo e o seu inverso; o arlequim a quem Posaconazol Metenamitoso Latanoprostático presta adulação ditirâmbica. Não sei de pior abono.
  • Marisa Isabel dos Santos Matias [do Bloco de Esquerda]- Marx, Trotsky, 4.ª Internacional, Mao, Enver Hoxha, etc., contra a Europa, contra o Euro, contra a Nato, contra a América, contra Israel, contra a Banca, contra o Privado. Pastorinha do bonzo de Coimbra. A pior candidata, a par de André Ventura. Não menos alucinada do que aqueles que acusa de fascistas. Convém algum tento na língua, na história e nos conceitos. 
  • Tiago Pedro de Sousa Mayan Gonçalves [da Iniciativa Liberal]- Inexistência incorpórea e abstracta de morfologia levemente gaseiforme.
  • Vitorino Francisco da Rocha e Silva [do Reagir, Incluir e Reciclar]- Chamam-lhe cromo, simplório, sem estaleca, sem cultura e línguas para a função. A intelligentsia urbanóide lisboeta arrogante e sobranceira de que, entre tantos, Miguel Pinheiro, director executivo do Observador, demonstrou no acompanhamento jornalístico da campanha ser o expoente, desclassifica-o, ridiculariza-o, despreza-o, ignora-o. Cidadão de segunda? Pergunto-me, por exemplo, que têm os cromos institucionais de Arraiolos, a que podemos juntar a rainha de Inglaterra e o monarca sueco, especialmente de virtuoso ou qualificador que Vitorino Silva não possa ter? Confesso que nada anteciparia de aberrante numa República, a portuguesa, eventualmente chefiada por este decente, simpático e respeitável compatriota*. Para o ajudar na função não faltariam decerto pessoas capazes, sem vergonha para Portugal. Tenho em mente uma que lhe proporcionaria óptima assessoria jurídica ou de relações públicas: Marcelo Rebelo de Sousa; além do mais, com experiência de cinco anuidades no cargo.
É assim que, convicta e inconsequentemente, votarei amanhã, domingo, 24.Jan.2021, no mesmo V e com a mesma esferográfica com que votei em 24.Jan.2016, domingo.   
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* Dias atrás, na investidura da nova presidência, Amanda Gorman declamou na tribuna da América o poema, sofrível, "The Hill We Climb" que compôs expressamente para o acto, de que extraio, em tradução de Agostinho Pereira de Miranda no Público, esta passagem: 
 
«[...] Nós, os herdeiros de um país e de um tempo
em que uma pequena rapariga negra descendente de escravos
e criada por uma mãe solteira pode sonhar ser presidente
e logo ver-se a declamar para um. [...]»

De imediato, nunca falha, o fervor em manobras da leitura correcta do tempo e do mundo determinou que o que quer que ali se dissesse, dado o sexo do poeta, a suas circunstâncias biográficas mas, quero crer, sobretudo a cor da pele, haveria de soar por cá a, no mínimo, arrebatador e sublime. E de tal modo soou que até Posaconazol, o próprio, lacrimejou de emoção: Prontus, já chorei a minha lagriminha
Por isso, sonhe Amanda com o que sonhar — ser astronauta, coleccionadora de algas ou campeã universal de xadrez — quem se atreverá a objectar-lhe a mínima implausibilidade? No caso, calhou vir-lhe ao devaneio a possibilidade real, efectiva, facultada por uma democracia igualitária, de um dia ser presidente dos EUA. E porque não? Aplauda-se. Oxalá nenhuma razão espúria a cerceie apesar de ser um bocadinho mais escura do que Obama.
Mas isso é quando sonha uma mulher-negra-descendente-de-escravos-filha-de-mãe-solteira [para santo graal da perfeição antropológica só lhe falta, que eu saiba, ser fufa e mãe em regime de esperma comprado].
Já se for um simples e honrado calceteiro branco de Rans a sonhar, e a insistir no sonho, a discriminação da cidade, como talvez descrevesse Valupi, estala como sal no lume, Ó Tino, és um gajo porreiro e engraçado, está bem que voltaste a arranjar as 7500 assinaturas legais mas enxerga-te, pá, cada macaco no seu galho, presidente da junta de freguesia não é o mesmo que da República, não tens aquela classe, falta-te condição, trapioFaltam-lhe auctoritas e gravitas, explicariam os exegetas do "perfil adequado". 
Fosse Vitorino, por exemplo, muçulmano, preto, paneleiro ou habitante da Cova da Moura e imagino o chinfrim de entusiasmo no eixo culto progressista Lux Frágil-Campo de Ourique, nos tuítes das Câncios desta vida, nas redacções do Público, do Diário de Notícias ou mesmo do Observador, no comentariado televisivo. Nem precisava da bela parábola das pedras ou de ter proferido a mais certeira, engraçada e lúcida afirmação na campanha presidencial dos sete candidatos, a respeito de um deles.
Merece reflexão que em Portugal nenhuma figura pública da cultura, da socialite, da política, do desporto ou do entretenimento surja em seu apoio. Pois se até João Ferreira tem um Toy e um João Malheiro... Para Tino de Rans nunca haverá lágrimas de Posaconazol ou êxtases da mulher do brinco: «Agora vou ter o meu momento de elevação, quero falar da América. [...] E portanto vivi o dia da tomada de posse do presidente Biden com uma grande emoção [...] E claro que volto à poeta Amanda Gorman. Foi um momento..., tem havido poucos momentos de felicidade e daquilo que eu prezo mais que é o poder das palavras, e aquela rapariguinha que tem 22 ou 23 anos a dizer o seu poema com aquela elegância, parecia um pássaro a esvoaçar [...]» - CFA, 21.Jan.2021.
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Obtive de Alexandre Homem Cristo, criatura de encadernação esmerada e com este aparato académico-profissional, a seguinte apreciação das perspectivas eleitorais de André Ventura, V, diga-se de passagem, em que jamais votaria: 
«[...] Se nós tentássemos extrapolar a percentagem para umas legislativas, estaríamos a cometer um erro porque de facto para obter os 10% numas legislativas [...] serão necessários muitos mais votos do que aqueles que André Ventura potencialmente teria se, por exemplo, obtesse 10% nas próximas eleições.»

Estamos nisto.