Neste início de semana sondei uma dúzia de familiares e amigos acerca de dois atentados sanitários recentes, apetece-me dizer crimes, perpetrados por cá em plena pandemia:
- Lisboa, domingo, 10.Jan.2021- Concentração de 200 e tal pessoas contra a presença em Portugal de Marine Le Pen, promovida pela Rede Unitária Antifascista, com comparência de, entre outros tijolos e blocos, o de Esquerda. *
- Tebosa, Braga, domingo, 17.Jan.2021- Jantar-comício da campanha presidencial de André Ventura, com 170 comensais.
Todos os meus inquiridos, criaturas medianamente informadas, sabiam, mais ou menos horripilados, do banquete ventúrico; apenas um estava ao corrente do protesto «antifascista», sem reparo sanitário digno de apreço.
Acabo de guglar: o arraial da Praça de Luís de Camões devolveu-me 920 resultados, sem nenhuma ou com residual indignação anticovidiana à mistura; a comezaina no "Solar do Paço", 9850 resultados recheados de imprecação e censura veemente.
A comunicação noticiosa portuguesa merece-me, em geral, pouco respeito. Fede a selectividade tácita; da isenção faz não mais do que ideia vaga; rege-se por cartilha e agenda doutrinárias; presta favores aos governos de turno; induz no indivíduo necessitado de informação a percepção dos factos à luz da trend ideologicamente correcta ou da conveniência circunstancial do patrão. Enfim, fervor em manobras.
Levemente a despropósito, ocorre-me, não é?, voltar a Mamadou Ba, igualmente presente na Praça de Luís de Camões.
Referindo-se a André Ventura e citando apocrifamente o bispo de Leiria, o pesporrente e amabilíssimo doutor tuitou no passado dia 15,
'Será que o charlatão vai enxergar. Noutro dia foi o Marcelo a tirar-lhe Sá Carneiro e João Paulo II, agora é o bispo de Leiria a tirar-lhe a máscara. Mas como não tem vergonha na cara vai seguramente continuar a borregar berros de ódio!',
provando de uma assentada que desconhece o ponto de interrogação [não sei se na gramática senegalesa há, mas admira pouco em falantes que afirmam muito e raramente perguntam] e, sobretudo, que se está borrifando para a autenticidade das fontes, desde que lhe forneçam ladainha ajustada à causa, já que o cardeal António Marto nunca proferiu as palavras, sequer semelhantes, que Mamadou Ba lhe atribui.
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* Assista-se, no quarteirão de vídeos do acontecimento disponibilizados pelo Arquivo Ephemera, de José Pacheco Pereira, à inanidade inflamada de que aquela gente é capaz e à incapacidade liminar daqueles tontos de entoarem razoavelmente afinados o "Grândola, Vila Morena". Metem dó quando tentam a polifonia e tornam-se assustadores na vociferação de putatitvos aerossóis de SARS-CoV-2 na parte em que 'o povo é quem mais ordena'. Bem sei que o "parabéns a você" é muito mais fácil, mas o hino nacional é bem mais complicado.
Seria parcial e injusto se fechasse o verbete sem um considerando às práticas artístico-musicais entre as hostes tenebrosas de André Ventura: horror sem nome nem comiseração.