E se obrigassem os capatazes destas adegas — Ermelinda Freitas*, Pegões — a informar o consumidor acerca do contexto pormenorizado de cada prémio, um a um?
Tudo bem explicadinho: que concreto prémio?, quem atribuiu?, quando?, onde?
Isso é que seria serviço público.
* Em tempo
Às vezes sucede: vou por lã, venho tosquiado.
Foi o caso do verbete que publiquei, com a redacção que precede, ao início da madrugada de hoje.
«De: [...]@yahoo.com
Data: domingo, 3/01/2021 à(s) 08:10
Assunto: A respeito dos prémios dos vinhos Ermelinda Freitas
Para: <pluviochove@gmail.com>
Está no sítio deles, ó Plúvio!
Cumprimentos,
Muja»
Aprecio e agradeço que me corrijam. O descrédito e a falta de rigor desassossegam-me.
Precipitei-me, leviano e preguiçoso. Peço desculpa.
Confirmei «no sítio deles»:
2013- 123
2014- 135
2015- 167
2016- 184
2017- 247
2018- 192
Em seis anos, 1048 prémios, mas tenho de prevenir para possível erro de contagem, dado o denso e estonteante vapor etílico que manava do ecrã.
Mais de mil prémios, pois. E que terão de extraordinário 175 prémios por ano?
Algo de ridículo, um prémio de dois em dois dias, pompa enjoativa, "marketing" competente e esdrúxulo para impressionar papalvos, muita poeira para os olhos da turbamulta narcotizada num país cristino de «estimados clientes» onde imperam o Tony Carreira e o Toy, os preços em 9 e o Preço Certo, Cristina Ferreira e um presidente arlequim; o clã Dolores Aveiro, futebol e a indústria de propaganda do PS.
De resto, prémios, preços e promoções de vinhos — pr pr pr** — têm muito que se lhes diga, a merecer pós-doutoramento.
Para singela ilustração, só mesmo um cheirinho, leia-se este escrito de Edgardo Pacheco.
Talvez a propósito, uma historieta da Primavera de 2018.
De 14 a 18 de Maio decorrera em Santarém o concurso "Vinhos de Portugal" de 2018, em que se atribuiriam 369 medalhas, nas seguintes quantidades:
Grande Ouro, 36
Ouro, 126
Prata, 207
Seriam ainda eleitos os nove "Melhores do ano".
Participaram 1307 vinhos de 307 empresas de todas as regiões do país.
Preceituava o Regulamento:
«[...] 3.5. Por cada vinho a Concurso, o concorrente deve liquidar no acto da inscrição, 75 euros acrescidos de IVA, independentemente do número de vinhos inscritos. [...]», o preço que custou à Casa Santos Lima a inscrição do seu vinho branco "Corvos de Lisboa", da casta arinto, de 2017, produzido em parceria com o município lisboeta nuns terrenos próximos do aeroporto.
Este modestíssimo "Corvos de Lisboa" acabaria por ganhar uma das 73 medalhas da categoria "Ouro" que contemplaram 21 vinhos brancos e 52 tintos.
Nada de especial a não ser o plantio de "terroir" um pouco excêntrico.
Entretanto, atente-se na propaganda — presidente Medina, vereador Sá Fernandes, presidente arlequim e famulagem do PS, na abertura da Feira do Livro de Lisboa — em torno do magno sucesso vinhateiro.
João Gobern- Sempre vos digo que fiquei a rejubilar, é mesmo o termo, com a notícia de que o vinho "Corvos de Lisboa", que resulta de vinhas plantadas há apenas 36 meses, e que tem por base a casta arinto, ganhou o prémio [Mentira. «uma das 73 medalhas de ouro na sua categoria», sim.] da Vini Portugal ....
Margarida Pinto Correia- Uau!
JG- ... entre 1307 vinhos a concurso. E porque é que eu vibro com esta coisa do vinho "Corvos de Lisboa" e do prémio? Por uma razão simples: as vinhas onde este vinho nasce resultam de terrenos desocupados ao lado do aeroporto Humberto Delgado em Lisboa, o que significa que qualquer cantinho é bom para produzir seja o que for e que se calhar uma das maiores asneiras da nossa história foi mesmo decidirmos virar as costas à agricultura e ao resto [remoque, pela certa, a Aníbal Cavaco Silva]. "Corvos de Lisboa", chama-se o vinho. ... Três anos apenas chegaram ...
MPC- Extraordinário!
JG- ... para fazer dali um vinho premiado. É uma iniciativa conjunta da câmara e de uma casa de vinhos comercial, e pelos vistos já está a dar frutos.
«[...] foram precisos apenas três anos para que o “Corvos de Lisboa” conquistasse a medalha de Ouro [...]».
Mentira. «uma das 73 medalhas de ouro na sua categoria», sim.
«Vinho "Corvos de Lisboa" recebeu o primeiro prémio do concurso da ViniPortugal»
Mentira absoluta.
«O Vinho "Corvos de Lisboa" branco, produzido no Parque Vitivinícola de Lisboa, junto ao Parque da Bela Vista, ganhou em Maio a Medalha de Ouro no concurso de Vinhos de Portugal 2018 da ViniPortugal.»
Mentira. «uma das 73 medalhas de ouro na sua categoria», sim.
No Público de 19.Mai.2018, em notícia sobre os resultados do certame vinícola assinada por Manuel de Carvalho, hoje director do jornal, não há corvos nem noticiosamente seria caso disso.
Do mesmo modo, na notícia da "Vini Portugal", de 21.Mai.2018, porque haveriam os corvos socialistas, a meio da tabela entre 369 medalhados, de ter destaque?
Propaganda, propaganda, fervor em manobras...
Em suma, cumprimentos retribuídos ao atento Muja a quem agradeço o reparo.
Despachados os da Ermelinda, venham daí agora os mil prémios das pingas de Pegões.
________________________________
** p p p p p p
*** Fernando Medina