domingo, 29 de novembro de 2020

Bem-vindos ao país cristino [6] - 15 minutos de esterco

A doutora Cristina Ferreira [CF], industrial de entretenimento, que o presidente da República apadrinha e o primeiro-ministro apaparica,  protagonizou ontem à noite, pelas 21h14, os 25 segundos mais abjectos de que me recordo na televisão portuguesa. Lá irei, mas antes dêmos-lhe a palavra enquanto conversa com o jornalista José Alberto Carvalho [JAC] em defesa do seu beliscado estatuto e na promoção descarada deste livreco.

CF:
«Deixa-me já te dizer» [sic]
...
«Deixa-me usar uma frase do Valter Hugo Mãe. Aliás, o prefácio do Valter Hugo Mãe é extraordinário»*
...
«Recebi aqui uma mensagem que, de todas, das milhares, é a que eu acho que melhor define»
dos milhares, senhora doutora, dos milhares.
...
«Eu de repente estou à mercê de 10 milhões de pessoas que podem utilizar as redes sociais para comentar o meu trabalho»
Que comedida, doutora Cristina! Tão poucas?
...
«Convidei uma série de especialistas das mais diferentes áreas para darem a sua opinião e para iniciarmos aqui este debate, desde a filósofa à procuradora-geral da República, ao sociólogo... Porque é que isto acontece?»
A própria PGR? Ná, não me cheira, não estou a ver Lucília Gago a envolver-se directamente na causa particular de uma regateira ofendida. CF a esticar-se, a armar-se em assunto sério da nação.
Ficamos sem saber quem será a insigne filósofa e o sumo sociólogo. Hannah Arendt? Alain Touraine?...
CF não se enxerga. 
...
JAC:
«Deixa-me retomar aqui o prefácio do Valter Hugo Mãe*, assinado orgulhosamente nas Caxinas em Outubro de 2020»

JAC, num triste e deplorável papel de jogral de CF, em pleno "jornal nacional" das 8.
...
CF:
«Eu vou-te dizer uma coisa: isto que está aqui não me toca, nada do que está aqui me toca»
...
JAC:
«Mas estás revoltada, percebe-se que estás revoltada.»
CF:
«Estou revoltada e tenho uma coisa para te dizer ... estou aqui aflita, e estou aflita por uma coisa [CF esboça duas lágrimas]: a mim não me dói mas tenho muito medo de que doa a muitas outras pessoas»
Afinal, aquilo toca-a ou não toca? Dói-lhe ou não dói? **
...
«Saiu uma capa recentemente da revista Sábado, de um grupo que me tem atacado constantemente nos últimos tempos. O que é que lá está? Um ataque vil à minha moral, à pessoa que eu sou pessoalmente [sic], com invasões da minha vida pessoal e profissional. Eu mando aquilo para o advogado e digo O que é que se pode fazer com isto? E ele diz Cristina, infelizmente, nada. Há muitas fontes próximas.» ***
...   
«Imagina que dentro desta casa há uma pessoa que não gosta de mim»
Que exagero, doutora! Tantas?
...
«A Dulce Rocha, a procuradora-geral da República, diz isso mesmo»
Bem me parecia que «procuradora-geral da República» lá atrás era cagança. Cristina Ferreira desgasta-se a impressionar-nos com a eminência da sua pessoa. Sucede, azar dela, que a magistrada do Ministério Público, Dulce Rocha, com currículo estimável, nem procuradora-geral adjunta chegou a ser. Aposentou-se em Fevereiro de 2018, na posição de simples procuradora da República
...
«Se eu posso usar a minha imagem pública, o passo que se segue é uma petição pública para que esta discussão possa existir»
Gente poderosa faz coisas em grande.


E agora, os inacreditáveis finais 25 segundos de abjecção.
Eram 21h14 quando de indicador esquerdo em riste, depois o direito, fixando a câmara, em plano fechado sobre o seu rosto circunspecto, e fulminando-nos de moralidade, Cristina Ferreira encerrou o sórdido entremez de propaganda de si, num momento de manipulação e chantagem da audiência do mais reles que a habilidade humana pode lograr:
«Eu lembro aqui uma menina de 13 anos, Marion****, francesa, que se suicidou porque escreveram coisas na internet deste género. E essa menina de 13 anos pode ser a sua filha, pode ser o seu filho. Um dia destes pode ser ele a não aguentar aquilo que lhe dizem e a suicidar-se a seguir. E este livro [CF exibe a capa em grande plano] não é meu; este livro é de todos.»
Só faltou mesmo 761 200 900ligue agora! Não desperdice a oportunidade única de levar para casa 10 mil exemplares de "Pra cima de Puta" pelo custo simbólico de 1 euro + o IVA da chamada. Ligue!  
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* Como se a caução de um dos mais pífios e melosos escritores da nossa contemporaneidade garantisse a excelência seja do que for. Não bastando, VHM escreve com deficiências sérias de sintaxe. Retorquir-me-á o amável visitante: Mas se até a Inês Meneses escolhe VHM para a prefaciar, alguma qualidade o romancista de Caxinas terá.
Ahahah, ora aí está! Além de que a editora do "Pra cima de Puta", decerto não por acaso, é a mesma do "Caderno de encargos sentimentais". Contraponto, lembra-se?
 
** «Essas, agressivas, ... em mim não têm nenhum impacto. Em mim não têm nenhum, nunca, zero! ... As pessoas podem não acreditar, mas em mim têm efeito zero! Qualquer notícia, qualquer crítica, o que quer que seja.»
É por isso queao contrário do que consta"Pra cima de Puta", efeito de eflúvio celeste, foi escrito por um arcanjo anónimo inspirado por Deus.
Cristina Ferreira não existe. É puro ectoplasma.

*** Não me tomem por néscio. Sei bem, de conhecimento robusto, que na presente refrega em torno da Media Capital/TVI, a Cofina de Paulo Fernandes não fala de Cristina Ferreira sem propósito contaminado de interesse.
Mas não devo dispensar nenhuma pedrinha para melhor compreensão do mosaico do universo. E que pedrinhas falantes vão nestas 10 páginas — "Cristina, Guerras, Poder e a Queda" | revista Sábado, 25.Nov.2020  — assinadas pelas jornalistas Raquel Lito, Sónia Bento e Lucília Galha... Por muito que custe a CF, quase tudo aquilo se passa em estúdio ou vem de fontes do seu aquário profissional. Qual moral? Qual pessoal?

**** Cristina Ferreira, madura sabidona de 43 anos, oportunística, obscena e despudoradamente coteja o seu caso com o de Marion Fraisse que se enforcou em Fevereiro de 2013, aos 13 anos, num quadro de "bullying" escolar. Parasita sem escrúpulo nem asseio.
Já em 2018, quando migrou da TVI para a SIC, CF charrara alarvemente no cadáver de Lady Di.
Apesar dos laivos de ignorância grosseira, CF não é inocente nem ingénua. Recolhe do que semeia. De que e porque se queixa?