sábado, 3 de novembro de 2018

Contraponto

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Agosto de 2018, pico da silly season. Numa daquelas entrevistas curtas e superficiais, questionários de Proust com farinha Maizena para encorpar, e sem que se esperasse, eis uma nova coroação, desta feita não às mãos de um outro editor, veterano medalhado e ferido de perdidas batalhas, mas da própria jornalista que orientava a entrevista. Por esta ficámos a saber que o novo imperador a ostentar a incómoda coroa da linhagem de quase falidos editores nacionais é um jovem “coordenador cultural da Porto Editora”, que, além do atributo real, herdou também a casa-mãe da dinastia: a Contraponto, essa mesma fundada por Luiz Pacheco, de que ele é agora apresentado como “relançador”, e na qual lançará, porventura à laia de justificar a unção da sua jovem cabeça, umas biografias de gente que conheceu o fundador da Contraponto e nela foi publicada (Natália, Herberto). Num mesmo corpo, um novo imperador e uma reencarnação. Em suma, um acto messiânico, um verdadeiro milagre oferecido ao distraído leitor comum, entre um mergulho e outro.
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Quem será a «própria jornalista»? Quem é o «novo imperador»? Onde foi publicada a «entrevista»?
Gostei da peça, nutro admiração antiga pelos galimares em apreço, concordo muito com o autor, mas ponho-me no lugar do desprevenido e indocumentado freguês do Público e pergunto: que razões estranhas impedem o excelente Pedro Piedade Marques de "chamar os bois pelos nomes" [Inês Maria Meneses, Rui Couceiro]?; era preciso envolver esta página do Expresso de 11 de Agosto de 2018 em tão críptica névoa?
Coisas que me encanitam.