De luto por mais um dos bons que se desprenderam do hífen maldito, remeto para o verbete de 03.Mai.2020.
Conversas recentes de José Cutileiro:
No Sol, Nov.2017 // No Observador, Nov.2017 // No DN/TSF, Mar.2020
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«[...] uma experiência universitária breve, cumulada ao seu sempre inteligente comentário sobre os rumos do mundo, para as nótulas sobre o quotidiano e as suas histórias com os outros que deliciam no seu “Inventário” bloguista, bem como os ricos obituários de figuras, algumas ignotas para quantos não faziam parte do mundo anglo-saxónico que era a sua nunca desmentida “praia”, escritas semanalmente no “Expresso”, num estilo que se distinguia por não usar pontos finais a sincopar o texto, o que, em jeito de homenagem, arremedo neste que aqui lhe dedico, na hora da sua morte, que hoje foi anunciada, com um beijo de pesar à Myriam.»
Uma vez sem exemplo, acho pertinência e graça a FSC — salvo quanto à prática do Acordo Ortográfico lesa-pátria que defende desde o primeiro momento, alinhado com José Sócrates que o mandou insanemente aplicar — no excelente arremedo que hoje faz do estilo de José Cutileiro que, já agora, sempre repudiou e nunca se rendeu à ominosa reforma ortográfica de 1990.
Seixas da Costa refere, com alguma imprecisão, os pontos finais sincopantes que JC não usava no texto dos seus obituários. Convém esclarecer que a abstinência apneica de ponto final se cingia ao extra-longo primeiro parágrafo e consistia em algo mais: era evidente o gozo, sei lá se sádico, com que Cutileiro plantava o predicado da oração principal quase sempre a anos-luz do sujeito, deixando não raro o leitor às aranhas. Como aqui dei conta.