O cartilagíneo reina no habitat psicanalítico e psicológico* e abunda no mundo político e da politicologia, eclesiástico, comunicacional e artístico.
O cartilagíneo funciona no óbvio previsível. O cartilagíneo não surpreende.
O cartilagíneo funciona no óbvio previsível. O cartilagíneo não surpreende.
O cartilagíneo não afronta. O cartilagíneo só excepcionalmente confronta. O cartilagíneo não arrisca o prestígio. O cartilagíneo não tem esquinas. O cartilagíneo opina em círculo. O cartilagíneo discorda suavemente. O cartilagíneo tende para o consenso dos contrários. O cartilagíneo e a volubilidade não constituem contradição. O cartilagíneo é mestre no pino e no surf.
O cartilagíneo preza quem lhe paga.
O cartilagíneo ri com facilidade e é publicamente cordato.
Enfim, o cartilagíneo respira e sobrevive eloquentemente no condicional: raramente diz, quase sempre diria; não faz, habitualmente faria; não vai, iria.
Enfim, o cartilagíneo respira e sobrevive eloquentemente no condicional: raramente diz, quase sempre diria; não faz, habitualmente faria; não vai, iria.
Amostra aleatória, falível e subjectiva, de notórios cartilagíneos portugueses que reúnem um mínimo de cerca de seis dos critérios ontogénicos atrás inventariados e definidos pela escala pluvioponderada em muitos anos de observação distraída e atenta:
José Tolentino Mendonça, Eduardo Lourenço, António Vitorino, Luís Marques Mendes, Herman José, Júlio Magalhães, Nicolau Santos, Helena Sacadura Cabral, Aurélio Gomes, José Alberto Carvalho, Carlos Magno, Maria João Avillez, Diogo Freitas do Amaral, António Costa Pinto, João Proença, Guilherme Silva, Vítor Ramalho, Inês Meneses não é?, Manuel Clemente, Júlio Isidro, António Capucho, Eduardo da Paz Ferreira, Maria de Belém Roseira, Jorge Gabriel, António José Teixeira, Rui Oliveira e Costa, Raquel Vaz-Pinto, Pedro Santana Lopes, António Costa.
Não considerei espécimes da área psi, subsumida por cartilagineidade matricial. Psicanalista cartilagíneo, psiquiatra cartilagíneo, psicólogo cartilagíneo, tautologias. Tome-se para exemplo o xarope Júlio Machado Vaz.
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente-arlequim, Cartilaginius rex**. Indestronável. Observemo-lo:
«Ora bom, eu diria só duas coisas: a primeira é a de que — sic, à Pinto da Costa e à Marques Lopes — foi muito útil e importante […]. A segunda observação que eu faria é esta: [...]»
Marcelo foi sempre assim.
Já a biruta lombricóide*** pertence a um subgrupo dos cartilagíneos, muito populoso, para que agora não tenho tempo.
Com todo o respeito.
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* A talhe de foice, António Guerreiro, "Os psi, modelo de luxo" no Público/Ípsilon de 30.Jun.2017.
*** Sei de uma lombriga condenada a pena efectiva de três meses de prisão de ventre.