sexta-feira, 7 de julho de 2017

Eu, quem?

Calipto.

«Foram os eucaliptos, propagando o fogo de uns para os outros, de um lado para o outro da estrada, através das suas copas, quem matou aquelas 47 pessoas.»

Ó senhor doutor e ilustre escritor Miguel Sousa Tavares, pelo amor da santa, «foram os eucaliptos quem»? Que prosopopeia é essa? Logo o Miguel, a quem oiço repetidamente confessar que investe cuidado máximo – vigilância do erro, esmero na gramática – na sua lauda semanal do Expresso. 

«De facto, ao contrário do que defende a ignorância urbana e arrogante de propostas tendentes a proibir a caça, vindas do PAN, do PEV ou do BE, a caça (e também por causa da sua íntima relação com a agricultura), é uma das últimas actividades que ainda mantêm os terrenos cultivados, desmatados, e vigiados e preserva o que resta do mundo rural — cujo abandono, todos concordam, é, no fim de tudo, a causa principal dos incêndios.»
Não deixa de me fazer sorrir a objurgatória à «ignorância urbana e arrogante» por parte de um menino-bem, nado, cultivado e vivido na aristocracia citadina, putativo porta-voz da sabedoria rural de caçadeira a tira-colo. E eu pensando que a causa principal dos incêndios fosse a maldade louca... 
Já no Expresso do sábado anterior, 24.Jun.2017, Miguel Sousa Tavares vertera copiosa sanha anti-eucalíptica em "O essencial e o marginal". Gosto da resposta – Meu caro Miguel Sousa Tavares... – que Henrique Raposo lhe deu: "Calitros" | Expresso, 01.Jul.2017".   

Não me vou sem quatro ou cinco quinaus  gamárticos no Expresso e noutras gazetas. Estão a pedi-los.

«Volta Galp, estás perdoada»
«Volta, Galp», se fazem favor. «Volta Galp» é outra coisa, senhores jornalistas.

«têm havido várias reuniões entre os advogados das duas partes»
«tem havido», foda-se. Aprendam. Aprendam. Aprendam.

«Lev Yashin, para muitos um dos melhores guarda-redes da história da futebol, também jogou durante muitos anos, até aos 41. Começou em 1950 e só terminou em 1970, sempre ao serviço do seu Dínamo de Moscovo e da selecção da Rússia, onde venceu os jogos olímpicos em 1956.»
Que merda é aquilo, ó doutor Gonçalo Lopes
«e da selecção da União Soviética que com Lev Yashin na baliza venceu os jogos olímpicos de 1956 em Melbourne», se não se importa. 

«Até sempre Henrique.»
«Até sempre, Henrique.», se faz favor. «sempre Henrique», doutor Eduardo Dâmaso, é outra coisa; sempre Henrique é o que Medina Carreira foi a vida toda.

Irra!
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* Diário de Notícias, o meu DN vai para 47 anos, definhante e desleixado como nunca. Hoje em dia, um jornal sempre disponível e lesto para os arrotos de indignação do príncipe da lisura procedimental infamado e perseguido pela justiça, para estímulo dos idólatras não vá esmorecer-lhes o fervor, mas que foi, relembro, o único diário português em papel a não conceder uma linha a Armando Silva Carvalho por altura da sua morte, no dia seguinte e em todos os seguintes dias seguintes. 
Desleixo, sim. Repare-se no sector "Opinião" da ficha técnica:
André Macedo, a quem Paulo Baldaia sucedeu na direcção, desaparecido desde 23.Mar.2017.
Miguel Ángel Belloso, desaparecido desde 24.Fev.2017.
Yanis Varoufakis, desaparecido desde 30.Nov.2016.
André Carrilho, muito bem, um génio, continua no activo. Mas porque não consta o magnífico José Bandeira, porventura o melhor cartunista de Portugal, que continua a publicar diariamente no DN desde há um milhão de anos?
E João Gobern, que ultimamente se tem desunhado a escrever, porque não consta também?
Enfim, grande tristeza.