sábado, 15 de fevereiro de 2014

Miró, briga de filisteus

«Na fastidiosa discussão sobre a venda em leilão dos quadros de Miró, omitiu-se geralmente esta pergunta incómoda, mas indispensável para percebermos o que está em jogo: porque é que aqueles banqueiros do BPN, cúpidos e filisteus de nome próprio — até muito para além do que a lei permite — adquiriram um acervo artístico que agora muitos querem preservar em território nacional, concedendo-lhe uma sublimidade que não aceitam ver trocada por um valor redutível a capital real? A resposta é óbvia e toda a gente a conhece. Porque os banqueiros, na medida em que sabem muito de dinheiro, têm também da arte este saber importante e necessário: as obras de arte circulam como o dinheiro. E se a arte se comporta como o dinheiro é porque o dinheiro se comporta como a arte.
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Nada exprime melhor a natureza mercantil do nosso mundo do que a arte.
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A um Governo como o que temos não queiram os cidadãos ministrar educação artística: é uma tarefa impossível, ociosa, cujo resultado trará sempre pouca arte e muita ideologia. O que é imperdoável é que quem sabe tão bem que arte é dinheiro pareça não estar à altura da regra de que dinheiro é arte.»