sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Amor

«[…]
Assim começa a carta: Vou fazer oitenta e dois anos. Encolheste seis centímetros em altura, pesas apenas quarenta e cinco quilos e manténs-te bela, graciosa e desejável. Há cinquenta e oito anos que vivemos juntos e amo-te mais do que nunca. Sinto de novo no fundo do peito um vazio devorador que é apenas preenchido com o calor do teu corpo contra o meu.
[…]
Seja o amor sublime e transcendente, seja a paixão romântica, seja o desejo erótico: nenhuma literatura inscreveu estas modalidades no universo conjugal. É certo que o casamento por amor é algo recente, mas ainda assim as grandes histórias de amor surgidas desta nova condição são histórias de traição e de adultério. O amor conjugal só produziu literatura, só encontrou motivação narrativa, enquanto amor ameaçado ou extinto.
[…]»
[Recensão de Carta a D. -  História de um Amor, de André Gorz (tradução de Rui Caeiro), Pianola, Nov.2013]