sábado, 16 de novembro de 2019

Incluindo o casamento pela Igreja e o rezar escorreito, tudo em Joacine soa a contrabando ideológico recauchutado

Declaração prévia
Eu, Plúvio, incapaz de me pensar, bem como à sociedade a que pertenço, fora do paternalismo colonialista em que o Estado Novo me formatou a história, o quotidiano, a imaginação e o desejo, declaro-me farto até ao vómito de tanta «responsabilidade cidadã» e de tanta «linguagem do ódio».
Vamos a isto.

Um dos textos em que nos últimos tempos me pareceu, linha a linha, exemplo a exemplo, ressumar maior e mais objectiva desonestidade foi o da prosélita professora Susana Peralta,  "A gaguez de Joacine e a pequenez do nosso espaço público", no Público de 08.Nov.2019.
No Público de ontem, 15.Nov.2019, Bárbara Reis, não deixando de me surpreender, vem estribar com argumentação poderosa a minha repulsa de uma semana atrás: "Churchill e Joe Biden são gagos? A ideologia pode cegar".
Ai cega, cega!

Não separe o homem o que Deus uniu... Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco... 
«[...] Joacine é divorciada e tem uma filha de três anos, Anaís Leonor. Primeiro, casou-se na conservatória com o ex-marido. Depois casou pela Igreja. 'Para irritação das minhas amigas feministas, digo que preciso de alguma incoerência na minha vida' [...] Ainda hoje, se rezar uma ave-maria, como fez à nossa frente, as palavras saem-lhe escorreitas sem qualquer tipo de hesitações. Não sabe explicar porquê mas não gagueja quando reza.»
- Octávio Lousada Oliveira/Sílvia Caneco, "A mulher que até os colegas de partido irrita" | Visão, 14.Nov.2019
Caso para sugerir que, em vez de falar, ó mulher, reze no hemiciclo! 

Joacine e o ódio
«[...] Nunca respondi com ódio a comentários de ódio, nem com ansiedade, nem com raiva, às vezes até sou irónica. O que verdadeiramente me incomoda são estes artigos mascarados de análises. Houve um ordinário que até meteu a minha gaguez no artigo, e era um indivíduo que eu respeitava*. Isto é incitamento ao ódio. É abrir a torneira da intolerância, do racismo, da xenofobia, da discriminação. A ironia é que muitas destas pessoas são antifascistas. [...]»
- Joacine Katar Moreira entrevistada por Carolina Reis, "Há intelectuais a legitimar o ódio" | Expresso, 09.Nov.2019 
Sorte a de Ferreira Fernandes em não ser mimoseado com «um fascista ordinário». Esteve por um triz.

Joacine e o amor
«[...] Eu iniciaria** ... Eu iria iniciar** ...  Política sem amor é comércio. [...]»
Apetece informar a amorosa doutora Joacine de que «O amor é de outras leis». Desde logo, na lei fundamental da República Portuguesa não ocorre senão uma muito sumida vez, a quatro artigos do fim [alínea b) do n.º 1 do artigo 293.º], na «amortização da dívida pública».  

«[...] os insultos que se sucedem, desde então, mostram que muitos são incapazes de se pensar e à sua sociedade fora do paternalismo colonialista em que o Estado Novo formatou história e quotidiano, imaginação e desejo. [...]
Xs signatárixs***, de vários quadrantes da vida cultural, social, académica e política, declaram solidariedade com a deputada Joacine Katar Moreira e apelam ao sentido de responsabilidade cidadã dos portugueses e das instituições públicas, para que não deixem impor-se a linguagem do ódio e da desconfiança onde deve apenas haver lugar para a vigilância crítica, o debate aberto e a vontade de ir mais longe na construção de um futuro melhor para todxs***
No momento desta publicação, ia em 314 signatários, arcanjos do costume mobilizados contra o Mal, entre os quais, mais do que previsivelmente, "Susana Peralta - professora de economia" e, obrigatoriamente, Boaventura de Sousa Santos, Mamadou Ba e Flávio Almada, um dos seis gentis «jovens da Cova da Moura»

Quase a despropósito,
«[...] O que acontece é que se tornou uma obrigação comercial, e de marketing, que todos os cantores, escritores, misses, influencers e demais figuras públicas, tenham de fazer uma declaração sobre o apocalipse e a maneira de nos salvarmos todos e sermos boas pessoas.
Daqui a um ano não há cantor, actriz, ou parvinho, que não seja vegetariano, devoto de Santa Greta, apaixonado pela "sustentabilidade", a favor da mudança de género, especialista em ozono, devorador de tofu, praticante de biodança e amigo das iguanas.
A banalização do mal é um dos horrores da nossa história – mas a "banalização do bem" desvaloriza-nos a todos.»
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* Ferreira Fernandes, "À espera de Joacine, a deputada" | DN, 02.Nov.2019

** Apesar de novato nestas lides, o duende político de Joacine Katar Moreira pede meças à retórica gelatinosa, como a de Marcelo Rebelo de Sousa ou de Luís Marques Mendes. Imbatíveis no modo condicional, enunciam como quem pega de cernelha: nunca dizem, diriam; nunca vão, iriam. [A propósito, Victor Bandarra, "A epidemia dos narizes de cera" | CM, 10.Nov.2019] No mais — e tenho procurado escalpelizar as intervenções públicas (textos, entrevistas, discursos) da lusoguineense —, Joacine Katar Moreira não passa de uma actriz política de pacotilha, não menos demagoga nem mais respeitável do que o doutor André Ventura, replicadora de bovinidades ultragastas e, pior, gárgula escorrente de repertório autoritário, arrogante e moralista. Por exemplo, reparo que nunca gagueja em «obviamente», advérbio que lhe é muito caro.

*** Sic. Se o ridículo matasse...