domingo, 3 de novembro de 2019

Novilíngua assustada

Vejamos:
  • "Grupo de 20 maoris, em excursão pela Europa, esgotou as pastilhas de mebocaína nas farmácias de Aveiro"
  • "Grupo de 20 vândalos britânicos embriagados entornou 100 caixotes do lixo em Albufeira"
  • "Grupo de 20 índios incendiou a embaixada de Portugal"
  • "Grupo de 20 maometanos radicalizados escavacou os crucifixos da Sé de Lisboa"*
  • "Grupo de 20 mamadubás, infiltrado por uma maviosa joacine, passou a noite em vigília de oração e louvor aos pés da estátua do Padre António Vieira"
  • "Bombeiros de Borba** Agredidos - Grupo de 20 pessoas partiu o vidro das instalações e forçou entrada"
  • "Grupo de 20 paralíticos berberes esvoaçou esta manhã nos céus do Gerês"
  • "Grupo de 20 rosamotas enfurecidas atacou com gás mostarda o dono e o gerente de uma cervejaria"*** 
Dos oito títulos noticiosos supra só não se entende inteiramente o de Borba, recorrente ao longo do dia de ontem nos oráculos da TVI24. Ouvi com atenção o testemunho de três dos quatro voluntários que estavam de serviço na madrugada do ataque; escutei atentamente o ministro Cabrita; acompanhei vigilante a vó zofe da jornalista da TVI. Fui dormir sem que no discurso de ninguém surgisse a palavra indispensável à compreensão cabal da refrega alentejana. 
Esta manhã, depois de pôr em dia António GuerreiroÁlvaro Domingues, Pedro Mexia,  Ana Cristina Leonardo, Jorge Calado, Afonso de MeloAntónio Araújo, João Lopes, Maria do Rosário Pedreira e Rogério Casanova, **** fui à procura no infecto Correio da Manhã — onde escrevem, entre outros, José Rentes de Carvalho, Rui Zink, Rui Pereira, Francisco José Viegas, José Jorge Letria, Fernando Ilharco, Maria Filomena Mónica, Marcos Perestrello, Mário Nogueira, António Rego, Adolfo Luxúria Canibal, João Pereira Coutinho, Joana Amaral Dias, Eduardo Cintra Torres..., mas jamais os imaculados impolutos assépticos Daniel Oliveira, Valupi, Inês Pedrosa ou Pedro Marques Lopes —, a ver se relatava o sucedido de maneira verosímil e entendível. Mas tá quieto, ó preto. Quando nem o CM elucida a notícia, qualquer coisa séria se passa. A mim cheira-me a proibição dos médicos.
Não conformado, prossegui na demanda. Nada difícil, de resto: ao primeiro toque no Campanário, fez-se-me a luz de que suspeitava.

Concluindo, moro num país onde os mastins da irreplegível Censura Moral Pretoriana do Politicamente Correcto são prontamente açulados contra quem ouse pensar, dizer ou escrever em público coisa tão simples, compreensível e objectiva como, por exemplo, «Grupo de 20 ciganos partiu o vidro das instalações e forçou a entrada».
Estamos fodidos. Não que os ciganos não sejam pessoas antes do mais, que são; mas também são nobre e garbosamente ciganos, e isso às vezes pode contar muito num jornal, nas declarações dum ministro, na boca dum bombeiro ou num rodapé da televisão.

Tentarei no verbete seguinte mostrar que, apesar de tudo, a humanidade não está irremediavelmente perdida. 
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* Soam-me bem os bês de bombeiros de borba.
** Esta até a activista ateia anticonfessional, salvo quanto a São Manel, Fernanda Câncio publicaria, com prazer e sem espinhas, tanto mais que mora perto.
*** Para que aprendam a não vender apenas Super Bock.
**** Se isto não é Plúvio a gabar-se, que xaropada de neimedroping é esta?