quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Minudências ociosas

Na E, revista do Expresso de 25.Jan.2020.
«Eu sei que sendo vós pessoas normais, de casas arrumadas, podem não ter percebido o que se passou no Livre.»
Ó Henrique Monteiro, esta não parece sua. 

«O processo foi-se arrastando ao longo dos anos, porque foi preciso garantir o apoio financeiro do ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual], desenvolver um guião que nos satisfizesse...». 
Palavras de Pedro Santo recolhidas por Vasco Baptista Marques, na recensão (2 estrelas) a "O filme do Bruno Aleixo", co-realizado por João Moreira e Pedro Santo.
Pelo que vou observando e apesar do entusiasmo descomedido de Pedro Boucherie Mendes, o filme deverá ser coisa fraquinha. Mas não é esse o caso - admiro o boneco e simpatizo especialmente com João Moreira.
Foi na menção ao «apoio financeiro do ICA» — já agora, 100.000,00 euros — que me pus a congeminar: se a garrafa de água informa o consumidor comum acerca da mineralização total; se o pacote de batatas fritas declara obrigatoriamente a percentagem de sal, as bolachas dizem dos lípidos, a roupa denuncia o poliéster, o detergente da roupa conta tudo sobre tensoactivos aniónicos, o tintol sobre sulfitos e o azeite sobre a acidez, não seria pertinente que os filmes subsidiados com dinheiro público fossem obrigados a explicitar — nos cartazes, nos trailers e na ficha técnica, em Portugal — em quanto importou a contribuição do Estado?
Não seria isso transparência? Meu santinho Nuno Artur..., por que espera?
Assim o consumidor-cidadão sempre iria estando a par, por exemplo, do que os produtores de João Botelho recebem do erário para realizar as suas pretensiosas e estardalhaçantes fitas. Admito, escolho este exemplo porque embirro com João Botelho, incluindo nele o benfiquista furioso e o conspícuo dançarino no Lux Frágil. Que se há-de fazer? Devo-lhe um dos maiores barretes na minha cinefilia: "Quem és tu?", que vi no São Jorge em Nov.2001. Ei-lo todo, em sete supliciantes partes. *

No Jornal de Notícias de 26.Jan.2020. 
«[...] uma visão até plástica que remete para os lugares solarengos e frugais [...]»
Não gosto de VHM. Escreve mal e com afectação. Mas o que me desgosta mesmo é que um escritor português de calibre internacional, que em Julho de 2011 alagou Paraty de choro, desconheça que solarengo não é o mesmo que soalheiro ou ensolarado

No Público de ontem.
Gostei da prosa de Paulo Rangel — Brexit: say something, i’m giving up on you" —, à entrada da última semana em que vai conviver com os eurodeputados britânicos.
Pena foi isto:
«[...] As pipas e os toneis descomunais, o chão de terra à vista, as longas vigas de madeira [...]», em que a confiança no corrector automático e a falta de revisão pôs os tonéis a trovejar na 2.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo...   
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* Ainda João Botelho.
Escuto a apresentação do badalado "Os Maias" [2014] - 600.000,00 euros do ICA.
Jorge Vaz de Carvalho, baritonando a abertura do trailer: «[...] preparando-se para salvar a humanidade enferma», pronuncia enferma a rimar com "palerma". Logo a seguir, outra personagem defende que «Portugal precisa é da envasão espanhola».
Que ortoépia é a desta gente? JVC traduziu "Ulisses", bolas! Teria obrigação de melhor dizer.

Chiça penico!