Na sua primeira arenga como Presidente da Assembleia da República [PAR], Augusto Santos Silva discorreu acerca da peçonha nacionalista em contraponto da virtude patriótica, alongando-se depois na glorificação da língua portuguesa e no zelo do seu uso:
«Gostaria que a liberdade de quem fica assim investido do poder da palavra fosse adornada com o cuidado pela língua em que a palavra se exprime».
Bonito e louvável. Dói é que este amor [hoje soa-me a hipocrisia] ao Português venha de um protagonista na governação — PS/Sócrates — que mais lhe maltratou a escrita através do desnecessário e nefando Acordo Ortográfico de 1990.
«O sinal de pontuação de que a democracia mais precisa é o ponto de interrogação. O sinal que mais dispensa é o ponto de exclamação que, ao contrário do que acontece com os fanatismos de toda a sorte, como bem mostrou Amós Oz, a democracia deve usar com grande parcimónia. Deixemos as certezas aos néscios. E cultivemos sem temor a nossa capacidade de questionar e inquirir. A interrogação sacode os preconceitos, abre caminhos, convida a ouvir várias respostas, trava o passo ao dogmatismo e à intolerância.»
Revejo-me nisto.
Lá pelo meio, Augusto Santos Silva sacou de Ludwig Wittgenstein:
«Os limites da linguagem são os limites do pensamento, como é geralmente sabido.»
Ora aqui é que a porca torce o rabo!
Tenha o novo PAR paciência — ao filósofo austríaco já não adianta, desde Abril de 1951, tê-la —, mas não me conformo.
Defendo e quero veemente crer em que o pensamento não é limitável pela porra de linguagem nenhuma, muito menos por qualquer língua.
- Podes argumentar e desenvolver a ideia, Plúvio?
- Epá, não sei, não consigo. É uma intuição para que não tenho palavras.