sexta-feira, 4 de julho de 2014

De 1 a 10, qual o seu grau de satisfação?

«Somos constantemente solicitados a contribuir para a audit society em que vivemos: fazemos uma operação bancária mais complexa, recorrendo aos ofícios de um “gestor de conta”, e ao fim de alguns dias recebemos um telefonema a pedir para avaliarmos o banco e os seus funcionários, segundo parâmetros de satisfação que vão de um a dez; pomos o carro na oficina, para uma revisão, e mal o retiramos somos contactados por um profissional de relações públicas que nos pede para fazermos uma avaliação dos serviços prestados, incluindo a solicitude com que fomos atendidos, usando mais uma vez a canónica tabela de um a dez; usamos os serviços técnicos da companhia que nos fornece telefone, Internet e tutti quanti (companhias especializadas em vender-nos o que não queremos comprar), e haveremos de ser convidados, por telefone, a fazer a avaliação quantitativa do “desempenho” dos anjos cibernéticos que são verdadeiros ministros de um poder executivo oculto. Sempre que respondemos a estes inquéritos, estamos a participar num sistema de controlo exercido em cadeia: cada um controla o próximo, através dos métodos policiais da avaliação, e é estimulado a exercer formas de auto-controlo e auto-avaliação.
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Hoje, a verdadeira arte política dos governos democráticos, do poder cibernético-governamental, é a estatística. Daí, a orgia de números no discurso público que somos obrigados a atravessar, todos os dias, em todo o lado. Os centros de decisão do poder político são centros de cálculo e de tradução estatística. E o nosso horizonte está preenchido pela aritmética política, por um governo planetário dos números. A avaliação, ferramenta primeira da actual técnica gestionária, pode ser definida como um poder regulador e uma polícia científica.
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