sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Desorientação sexual e coisas do género

«[...] Devido a essa considerável variação da preferência sexual encontrada entre pessoas que dizem ter sexo com outros do mesmo sexo, os cientistas afirmam “com confiança” que não há nenhum gene gay ou outro factor genético que determina por si só a orientação sexual de uma pessoa. [...]
No site do estudo, os cientistas justificam os motivos que os levaram a realizar este trabalho: usar informação genética para compreender melhor as pessoas que fazem sexo com as do mesmo sexo ou desmistificar estudos anteriores. “Os nossos resultados não devem ser interpretados de maneira a que insinuem que as experiências dos indivíduos LGBTQ são ‘erradas’ ou ‘perturbadas’. No fundo, este estudo dá-nos mais uma prova de que a diversidade do comportamento sexual é uma parte natural da variação humana como um todo.[...]»
Teresa Serafim, "Ao fim de anos de discussão, viu-se que não há um gene gay"
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«[...] a ciência (e não a “ideologia”) encarregou-se de multiplicar as excepções e de descobrir processos susceptíveis de intensidades variáveis, modulações, mais do que divisões, no que diz respeito às pertenças sexuais (deveríamos antes utilizar um neologismo: “sexuadas”). Para a consideração de que há variações de intensidade, mais do que limites estanques (quando visivelmente transpostos eram considerados aberrações), começou por ter que se considerar — a ciência assim o obrigou — a distinção entre sexo genital e sexo genético. E quando se tornou necessário descer cada vez mais ao nível genético para descobrir a linha intransponível entre os géneros, até se descobriu que havia indivíduos XX machos e indivíduos XY fêmeas. É certo que são excepções, mas elas adquiriram um valor estratégico suficiente para destruir as antigas evidências na separação dos géneros (os quais coincidiam sem hesitação com as características fixas da pertença sexual) e para contrariar a suposta universalidade da divisão categorial binária. [...]»
António Guerreiro, "Ideologia do género, dizem eles"

Público, 30.Ago.2019