segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Covid-19 | Mortes a lamentar

«Hoje há a lamentar mais X mortes
Frase repetida diariamente como um estribilho em todos os noticiários televisivos*, desde o início da pandemia.
Quando não entoa hinos, o jornalismo televisivo recita elegias. A mais insistente deste há meses tem uma fórmula fixa que se exprime retoricamente através da fórmula “hoje há a lamentar”. O sujeito da lamentação é indefinido e podemos presumir que é colectivo. A fórmula diz que toda a morte é lamentável e não há ninguém que não a lamente. Mas porque se repete tal fórmula até ao ponto em que ela se esvaziou de qualquer tom lutuoso e se tornou apenas cómica? Em primeiro lugar, porque a linguagem da dramatização tornou-se um lugar-comum deste discurso jornalístico demagogicamente enfático nas palavras, nos sons e nas imagens; em segundo lugar, por obediência cega a uma “fraseologia” que precisava de ser satirizada por um Karl Kraus renascido, que começaria certamente por perguntar: como é que gente certamente sensata e inteligente aceita passar por estúpida quando cumpre a sua tarefa profissional?»
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* Para ser preciso e justo com as outras televisões, António Guerreiro deveria ter escrito «em todos os noticiários da SIC». Deixem-me remeter para o verbete "Surto de psitacismo na SIC com mortes a lamentar", de 11 de Agosto transacto.
E lá continuam, ridículos e dignos de dó, todos os pivôs da SIC todos os dias a toda a hora, no mantra diário da lamentação. Dois exemplos:
Ana Peneda Moreira, anteontem;