«O trabalho digno e com direitos não tem APENAS a ver com a dignidade da pessoa humana, como repetidas vezes tem sublinhado o Papa Francisco. O trabalho digno e com direitos é TAMBÉM uma questão de resiliência e de sustentabilidade das nossas sociedades. Uma sociedade precária não é uma sociedade resiliente.»
Vam-lá-ver: onde, quando, disse o Papa Francisco, repetidas vezes, que o trabalho digno e com direitos não tem apenas a ver com a dignidade da pessoa humana? Como pode o representante de Cristo na Terra ter proferido semelhante republicanice?
Será António Costa a complementar o Papa, acrescentando ao discurso pontifício o mantra da resiliência e a praga da sustentabilidade?
Mas se calhar o que António Costa quis mesmo dizer foi que o Papa Francisco tem dito repetidas vezes que o trabalho digno e com direitos não tem apenas a ver com a dignidade da pessoa humana — como se não bastasse — mas também com a resiliência e a sustentabilidade das nossas sociedades.
Gastei um tempão a mondar proclamações do Papa Francisco em italiano, em espanhol, em inglês, em francês e em português e não achei, nem esperava achar, nada a jusante da dignidade da pessoa humana.
A menos que o Papa tenha falado da resiliência e da sustentabilidade em sânscrito ou em volapük. Nunca se sabe.
O que sei é que a invocação de qualquer dito ou de qualquer bufa do Papa argentino é uma espécie de canivete-suíço para uso ornamental dos jacobinos deste tempo. Lembremo-nos de Mário Soares.*
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* A propósito, confesso envergonhado que, quase meia-noite, ainda não cumpri o meu dever diário de hoje.
Deus me perdoe.