quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Alberto Gonçalves escreve bem, é cómico e tem pelo menos um amigo de esquerda

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Um verso do Talmude garante que o sujeito que salva um homem salva o mundo inteiro. O BE aguarda a oportunidade de resgatar a humanidade em peso e em simultâneo. Consequentemente, nunca resgata ninguém em particular. Como é pico nas causas e nos fanáticos das causas, o BE distancia-se do seu objecto ao ponto da desresponsabilização absoluta. Ali, não há pobres: há pobreza, conceito abstracto que poupa trabalho e facilita a conversa fiada. Se um indigente específico, com nome, cara e cheiro, não é agradável, milhões de indigentes vagos e remotos constituem motivo de entusiasmo e prosápia. Em vez de alimentar um pobre, o BE alimenta-se deles todos.
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