quinta-feira, 14 de abril de 2016

Primeiro levaram... não sei quem, e outros gorjeios do sapiens sapiens

Sabe-se, os comunistas adoram Brecht. Os de sensibilidade lírica mais ateada chegam a vir-se à simples invocação do seu nome. É gosto, é liberdade, estão no seu direito, nada contra.
Apanhei ontem um panfleto do SITAVA [Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos] — "E QUANDO FOR EU ???" — que adapta a um ocorrente, sério e respeitável problema laboral os famosos e decantados versos, libelo contra a indiferença, que começam por «Primeiro levaramEm seguida levaram …».
Nove em cada dez adultos medianamente cultos, nuns aliterantes mas rigorosos cálculos ultos ultos a que acabo de proceder de outiva, estão [foram] convencidos de que o pai do poema é Bertolt Brecht. Sem surpresa e com alento do oxigénio puro que lhes sopra de um leste prístino, os escribas deste sindicato comunista não hesitam: Bertolt Brecht [eles escrevem "Bertold"; por via das teimas fui espreitar como está na campa], claro!, há dúvidas?
Há. Muitas. Todas.

Para mim, espécime proto-adulto da microminoria sofrivelmente informada, o autor é Martin Niemöller. Por mais que tal desconvenha à inflamada Cipe Lincovsky.  
Estribo-me, e chega, no trabalho generoso de dois estudiosos:
- Harold Marcuse [Hello, I am a professor of German history a the University of California, Santa Barbara...]
Que tal?

Portanto, a Niemöller o que pertença a Niemöller; e a Brecht o que for de Brecht, mas só o que for, porra! O fervor em manobras não deixa de me entreter. A maior parte das vezes cansa-me. E enerva. 
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Na net junta-se amiúde o nome de Vladimir Maiakovski, mas isso é história ainda mais mal contada.