sexta-feira, 3 de abril de 2020

Clara Ferreira Alves, petulante; Pedro Mexia, não.

«[...] A sida, a crise de saúde mais grave que a minha geração conheceu, e que decretou a morte dolorosa e a violência do estigma das primeiras gerações de infectados, acabou por ser controlada, mas a vacina não chegou. Apenas a transformação da doença como metáfora, nas palavras de Susan Sontag, em doença crónica. A colaboração planetária foi essencial. [...]»

Que sentido faz no contexto o título da nova-iorquina? Nenhum.
Ficasse-se a plumitiva pela «transformação da sida em doença crónica», e bastaria. Mas CFA não desperdiça nenhuma oportunidade, ainda que desconchavada, de relembrar aos leitores que é a pessoa mais letrada do universo. 
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«[...] Lembrei-me por isso de “A Doença como Metáfora” (1978), um breve ensaio de Susan Sontag que nunca me pareceu tão útil, porque perdi a conta aos artigos de jornal que usam o coronavírus como metáfora do capitalismo, do ateísmo, do consumismo, da “natureza zangada connosco”. É que se uma rosa é uma rosa é uma rosa, então um vírus é um vírus é um vírus. Sontag, que enfrentava à época um cancro, embora nunca mencione a sua condição, escreveu “A Doença como Metáfora” para atacar esse uso da doença como metáfora disto e daquilo. O seu estudo é cultural, linguístico e clínico (na óptica do paciente). Do ponto de vista cultural, trata-se de um pequeno historial das metáforas associadas a duas doenças, a tuberculose e o cancro, sobretudo na literatura euro-americana; em termos linguísticos, é uma crítica ao uso de terminologia médica fora do campo da medicina, em especial no combate político; de uma perspectiva oncológica, é um apelo a que se encare a doença como questão científica e terapêutica, não como alegoria ou moralidade. [...]»

É por isto, certo de que não combinaram falar da metáfora de Susan Sontag na mesma edição do Expresso, que confio em Pedro Mexia, que leu o livro, e desconfio de que a e portanto dito isto devo dizer etc. Clara Ferreira Alves do livro só sabe ou só se lembra do título com que se vem pavonear.