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Veja-se como a argumentação "naturalista" entra em acção [brandida pela ideologia de direita] nos
debates sobre adopção, casamento entre pessoas do mesmo sexo, etc. A cultura da
Esquerda, pelo contrário, implicou sempre uma viragem linguística, um linguistic
turn, na medida em que os seus conceitos e ideias eram consubstanciais às
palavras, eram inventados nelas, nelas ganhavam corpo e factualidade, e não
tinham outro instrumento para se tornarem efectivas e performativas. Isto não
significa que a esquerda não engendre a máquina linguística que cria uma
cultura caracterizada pelo vazio. Esse é, aliás, o seu pecado mortal, aquilo
que faz com que fique imobilizada nas suas mitologias e acabe por funcionar em
acordo metodológico - talvez pudéssemos dizer "epistémico" - com a
direita.
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