chama — quem diria!? — mentiroso a José Sócrates:
«O que levou à detenção de José Sócrates há seis meses não é conhecido. A nossa justiça é demasiado lenta. De novo, sabemos, porque o próprio Sócrates o disse, que ele pediu dinheiro a um amigo. Muito dinheiro. Como esse amigo teve vários negócios com o Estado quando Sócrates era governante, é legítimo que a justiça investigue.
[…]
um dirigente político tem, além de honesto, de parecer. Não é frase batida, Sócrates sabe-o, por isso mentia quando dizia que vivia só dum empréstimo bancário. Com este "caso Sócrates", temos até agora, patenteadas, duas situações graves: a lentidão da justiça e Sócrates ter mentido.
[…]»
Falta Pedro Marques Lopes chamar nas páginas do Diário de Notícias qualquer coisa menos recomendável a Sócrates, que Fernanda Câncio, essa, está fora de questão. [Sei que exagero. Olhem-me aqui, anteontem, Sérgio Figueiredo. Para não falar do correspondente de L'Osservatore Romano.]
Independentemente da responsabilidade criminal que venha a ser apurada, se algum dia se chegar lá, este excepcional artífice da patranha basta para que me sinta profunda e irrecuperavelmente enganado acerca de um político que, apesar da persona, admirava e em que pus a cruzinha nas duas vezes a que foi a votos, por achá-lo, como primeiro-ministro, o indivíduo com mais pinta para o cargo entre os 17 chefes de governo que conheci até hoje.
Ferreira Fernandes fala na explicação, omissa do essencial, que Sócrates deu em 27.Mar.2013 para o financiamento dos seus gastos. [Até dói rever hoje como José Sócrates — aqui, a partir do minuto 80:00 — se esquiva, esconde e mente].
Há, no entanto e mais recente, uma mentira que nem por se falar menos dela acho menos relevante: a com que procurou iludir e aldrabar a RTP, e a nós, na "declaração" de 29.Nov.2014 em que esclarecia a venda «por um preço total de 100.000 euros» — dizia, perdão, declarava Sócrates — dos apartamentos do Cacém. Foi pelo preço total de 175.000 euros. Está nas escrituras.
Sendo certo que nada disto dê ou mereça prisão, por mim não precisaria de mais, se muito mais não houvesse, para a abominação do antigo primeiro-ministro que tanto defendi e por quem pugnei entre amigos e conhecidos.
Os porfiados asseclas socratistas, socratófilos e socratómanos, que os há bons e muitos, talvez vejam, os que conseguem ver, nestes ludíbrios meras e toleráveis insignificâncias na essência do seu adorado e destemido animal. Por mim, vou vendo montanhosos indícios de monstro.
PS
A apregoada vindicta de magistrados e a presumível incompetência com que a Justiça está a tratar Sócrates não me suscitarão um grama de revolta enquanto Pedro Marques Lopes e todos os outros, incluindo Clara Ferreira Alves, não se incomodarem nos seus púlpitos com a qualidade da Justiça que, por exemplo, condenou Afonso Dias pelo rapto do menino Rui Pedro. Não se calam e indignam-se com a "ressonância da verdade" que ajudou a condenar Carlos Cruz, defendido por Ricardo Sá Fernandes, por dois crimes de abuso sexual de menores, mas continuam caladinhos que nem ratos com a "ressonância" que meteu nos calabouços o desgraçado motorista. Ai de mim se me passa pela cabeça que o facto de, no caso de Lousada, Ricardo Sá Fernandes ter estado do lado do menor lhes pudesse, a Pedro Marques Lopes e a Clara Ferreira Alves, dificultar um bocadinho a veemência da pregação… Mas tenho bom ouvido e julgo saber em que julgamento a verdade ressoou muito menos.