«Nas actuais discussões sobre a escola, as questões da avaliação ocupam um lugar preponderante, de tal modo que até nos esquecemos de que falar da escola deveria ser, antes de mais, falar dos saberes, da transmissão desses saberes, dos professores que são simultaneamente detentores de saber e “técnicos” da transmissão, da instituição antiga e dotada de um enorme poder de resistência, onde se entra para um encontro “amoroso”. Por isso é que o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) se tornou um dos aparelhos — de índole técnica, mas com vocação ideológica — mais conhecidos do Ministério da Educação e Ciência. O seu presidente, Hélder de Sousa*, é um ideólogo da avaliação.
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O IAVE é o laboratório científico onde se trabalha para que as provas de avaliação sejam cada vez mais apuradas. Significa isso que elas devem responder a exigências de objectividade, de modo a garantir medições sem falhas. A chamada “grelha” de avaliação é um instrumento fundamental da ciência dos testes. É uma coisa complicadíssima, um longo manual de instruções, regras e prescrições destinadas a anular ou, quando tal não é inteiramente possível, a disciplinar a subjectividade dos professores que corrigem os exames. O juízo subjectivo do professor deve ficar reduzido a mero resíduo, mesmo nas provas das disciplinas de humanidades, onde este imperativo é um constrangimento difícil de superar. A prova perfeita a que aspiram os ideólogos do IAVE é aquela que requer uma tecnicização total do trabalho de avaliação, ao mesmo tempo que se conforma a um standard perfeito, rigorosamente respeitado para que as medições cumpram a exigência de objectividade.
O IAVE é o laboratório científico onde se trabalha para que as provas de avaliação sejam cada vez mais apuradas. Significa isso que elas devem responder a exigências de objectividade, de modo a garantir medições sem falhas. A chamada “grelha” de avaliação é um instrumento fundamental da ciência dos testes. É uma coisa complicadíssima, um longo manual de instruções, regras e prescrições destinadas a anular ou, quando tal não é inteiramente possível, a disciplinar a subjectividade dos professores que corrigem os exames. O juízo subjectivo do professor deve ficar reduzido a mero resíduo, mesmo nas provas das disciplinas de humanidades, onde este imperativo é um constrangimento difícil de superar. A prova perfeita a que aspiram os ideólogos do IAVE é aquela que requer uma tecnicização total do trabalho de avaliação, ao mesmo tempo que se conforma a um standard perfeito, rigorosamente respeitado para que as medições cumpram a exigência de objectividade.
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A eficácia instrumental e ideológica destas provas e das respectivas grelhas estende-se muito para além do exame: mostra-se assim aos professores que eles não passam de agentes da educação, e é com esse estatuto simbolicamente diminuído que ocupam o seu lugar. Um lugar de desterro, de onde a maior parte só pensa em fugir.
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António Guerreiro, "A escola impossível" | Público/Ípsilon, 19.Jun.2015
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Entrevista ao Público, 14.Jun.2015
Entrevista à Antena 1, 15.Jun.2015 [entre os minutos 05:20 e 17:50]
Entrevista à SIC Notícias, 16.Jun.2015