«Numa entrevista a este jornal (por Isabel Coutinho e Isabel Salema), publicada no passado domingo, José Manuel Cortês, à frente da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, repete dez vezes a palavra “promoção”. Devemos concluir que é a sua palavra-maná, o ídolo capaz de interceder na ampliação de um espaço público para a literatura.
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Para José Manuel Cortês, a manifestação cultural de maiores potencialidades “promotoras” é o “festival literário”, esse grande exemplo de espectáculo de variedades que leva às últimas consequências a regra de ouro das manifestações culturais onde se apresentam e se manifestam escritores: é preciso que eles falem de qualquer coisa, mas nunca de literatura.
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já era altura de uma entidade como a Direcção-Geral do Livro perceber aonde nos levou a ideologia da “promoção” festivaleira e a obediência aos ditames do “capitalismo cultural”.
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Esta semi-cultura de quem está persuadido de que participa num importante empreendimento cultural é muito mais nefasta do que a pura ausência de cultura. O modelo da “promoção” que perpassa em todo o discurso de José Manuel Cortês é o da “democracia cultural”, sob a forma de mediocridade pública.
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