Um destes dias, na visita às “Princesas de Arcádia”, de Fernando Gaspar, em Sintra, deparou-se-me na parede um texto dele que vale uma princesa das dele; se não mais.
Olhem-me para isto:
«[…]
à
entrada da praça dos mercadores, o bronze e o ébano esculpiam a memória dos
dias da matança. os pássaros, em voo incessante e absoluto, teciam durante o
dia o véu que abrigaria de noite a cidade.
[...]
toda
Arcádia restou uma quieta semente. essenciais e contidas, todas as montanhas,
falésias e grutas, lendas e gravuras, numa semente redonda como a lua. pequena
como o agora. toda a força da natureza nos confins de um grão, até um dia. um
dia a semente germinou na memória do poeta, um dia deu rebentos. depois os
rebentos cresceram e de um caule vigoroso saíram mil folhas, cadernos e livros;
muitos livros. Arcádia está lá, dentro de cada um, entre as folhas alvas, por
entre cada letra; jasmim trepado verso a verso, perfumando cada sílaba.
[…]»
Fernando Gaspar, "quase utopia grécia perene" | Música de Jan Garbarek [sax tenor], “Dis”.
Muito obrigado, senhor Fernando, pelo prazer.
PS1
Note-se
como quase e utopia se ligam por uma diagonal de uma esquina a outra do texto e
em como Grécia e perene se ligam por outra diagonal da outra esquina à outra.
PS2
Pequena como o agora, bolas.
PS3
Ler outra vez, se faz favor, o ranger salgado dos navios, de va gar.