domingo, 23 de dezembro de 2012

Ideologia da avaliação | Pensamento crítico

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A normalização a todos os níveis que o avaliacionismo promove com obstinação* serve não tanto para perseguir a incompetência e o mal mas para rasurar o que de bom existe e não cabe nas grelhas de avaliação. Aparentemente, toda a gente, hoje, perdeu a autonomia — que foi uma palavra mágica, tal como outra da sua família, ‘emancipação’. Mas se ninguém tem autonomia (parece que nem os chefes, os directores, os gestores, os patrões), o que é feito dela? Não existe em nenhum lado. Porque somos governados pelas coisas** e só existe uma política das coisas. E, para a política das coisas, todo o indivíduo é um alvo.
[…]»
António Guerreiro | Expresso/Atual, 22.Dez.2012
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* Não perder de vista a diatribe contra a sanha avaliacionista, do nosso magnífico António Guerreiro no Expresso de 11.Ago.2012. 
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** Talvez pior: administrados como coisas. E aqui ocorre o propalado desígnio de Claude-Henri de Rouvroy, Conde de Saint-Simon [1760-1825], acerca de o governo dos homens dar lugar à administração das coisas — «ce n'est pas d'être gouvernée que la nation a besoin, c'est d'être administrée», formulado em “Du système industriel” [1821, mais minuto menos minuto], conde aquele – condaquele? -  que não deve ser confundido, perdão, condefundido com o seu primo afastado, escritor,  Louis de Rouvroy, duque de Saint-Simon [1675-1755***], que duque é duque e conde é conde de importância inversamente proporcional à da linhagem nobiliárquica na bisca lambida.
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*** Em 1755 morreu gente que se fartou, muito mais do que no ano em que o mundo acabou e s’a gente já não se vir, um Natal dos bons e um ano dos novos, que agora me vou.