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a liberdade de
expressão, que desde o Iluminismo se tinha tornado uma reclamação tão
importante quanto a de uma universidade moderna enquanto instância de
produção, legitimação e socialização do saber, ficava agora mais próxima do seu
ideal. Não foi preciso muito tempo para que o ideal soçobrasse e viesse ao de
cima a sua face tenebrosa. As caixas de comentários tornaram-se um vazadouro de
insultos, de difamações, de indignações automáticas, de trocas de palavras
intermináveis e ociosas. Aquilo que era de início
visado como objectivo e se pensava que seria a regra — o diálogo com base no
princípio da razão e da reciprocidade, o acréscimo de saber e de opinião, a
ampliação da esfera pública — tornou-se rapidamente uma excepção: aniquilou-se
por hipertelia e foi rapidamente ultrapassado por um conflito de
objectivos. Os comentários infames proliferam com uma força colonizadora e de expropriação,
impõem a lei, sinalizam o espaço. A ideia utópica de uma paz eterna — ou, pelo
menos, negociável em cada momento — entre os jornais e os leitores tornou-se
uma guerra que procede pela poluição moral e intelectual (e, para tal, basta
uma minoria ruidosa).
[…]»
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Já agora,
«[…]
Esta escrita está
para a música do romance como a atonalidade está para a harmonia.
[…]
O espanto, como
sabemos, é o princípio da atitude filosófica e da vontade de saber.
[…]
este livro que se
chama Armadilha desarma simultaneamente as imposturas literárias, as
imposturas ideológicas e as imposturas culturais.
[…]»