«Os Intelectuais de Direita Estão a Sair do Armário é o título de uma
reportagem de Paulo Moura publicada na revista 2, do PÚBLICO, no passado
domingo. Tal título veicula a suposição de que o pensamento de direita foi
reprimido ou levado a um regime de auto-limitação, tendo finalmente chegado o
momento da sua libertação e afirmação pública. Pensar assim é um equívoco.
[…]
Esta nova direita é, pura e simplesmente, um
realismo. Por isso é que não precisa de grandes elaborações teóricas e a sua
afirmação, como mostra muito bem a reportagem de Paulo Moura e os depoimentos
que recolhe (nomeadamente, os de António Araújo), faz-se privilegiadamente nos
media. Esse é o seu ambiente “natural”: o da comunicação, o do divertimento, o
da burguesia como classe universal. Ela não precisa de construir um pensamento,
só precisa de seguir uma cultura difusa e dispersa, de não interromper o
entretenimento, de alimentar o conformismo dos media, de seguir com eficácia a
estratégia da sedução, de aproveitar a onda de desculturalização da política
que a esquerda superlight decidiu
surfar.
[…]
Hoje, a questão verdadeiramente pertinente não
é verificar, com algum equívoco, que os intelectuais de direita saíram do
armário; é perceber que muito dos intelectuais que se afirmam de esquerda e
falam em nome dela se converteram a essa cultura difusa da nova direita e
aceitaram preencher as quotas de mediatização que esta lhe concede, aceitando
um papel protocolar de “representação”. Também eles glorificam o novo realismo.»