sexta-feira, 20 de junho de 2014

Direita

«Os Intelectuais de Direita Estão a Sair do Armário é o título de uma reportagem de Paulo Moura publicada na revista 2, do PÚBLICO, no passado domingo. Tal título veicula a suposição de que o pensamento de direita foi reprimido ou levado a um regime de auto-limitação, tendo finalmente chegado o momento da sua libertação e afirmação pública. Pensar assim é um equívoco.
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Esta nova direita é, pura e simplesmente, um realismo. Por isso é que não precisa de grandes elaborações teóricas e a sua afirmação, como mostra muito bem a reportagem de Paulo Moura e os depoimentos que recolhe (nomeadamente, os de António Araújo), faz-se privilegiadamente nos media. Esse é o seu ambiente “natural”: o da comunicação, o do divertimento, o da burguesia como classe universal. Ela não precisa de construir um pensamento, só precisa de seguir uma cultura difusa e dispersa, de não interromper o entretenimento, de alimentar o conformismo dos media, de seguir com eficácia a estratégia da sedução, de aproveitar a onda de desculturalização da política que a esquerda superlight decidiu surfar.
[…]
Hoje, a questão verdadeiramente pertinente não é verificar, com algum equívoco, que os intelectuais de direita saíram do armário; é perceber que muito dos intelectuais que se afirmam de esquerda e falam em nome dela se converteram a essa cultura difusa da nova direita e aceitaram preencher as quotas de mediatização que esta lhe concede, aceitando um papel protocolar de “representação”. Também eles glorificam o novo realismo.»