sábado, 28 de junho de 2014

Escritores

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as entrevistas aos escritores são um campo fecundo de tropismos e tendências. De um modo geral, elas tornaram-se um discurso de complacência e satisfazem as solicitações fúteis do género people: o escritor fala de si próprio e do seu trabalho literário em registo de autopromoção e aceitando que tudo seja focalizado na periferia, que o texto seja um pretexto. Geralmente, o escritor aceita sem reservas nem desvios falar do modo de produção e escrita dos seus livros, dos seus gostos, das circunstâncias em que decorre o seu trabalho. A questão mais recorrente é a de como “surgiu” o livro, como é que tudo começou, como se deu o processo de “criação”. E, necessariamente, a partir daí tende-se para uma concepção quase teológica da “criação”: o escritor entrevistado é elevado naquele momento à condição laicizada do “criador”.
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tornaram-se um género retórico, com os seus códigos: implicam um conjunto de obrigações e estereótipos aos quais tanto o entrevistado como o entrevistador respondem quase automaticamente. As entrevistas aos escritores mais novos — que são as maiores “vítimas” destas entrevistas, já que elas têm quase sempre um objectivo de apresentação — revelam ainda uma outra característica que pode ser também confirmada noutras circunstâncias: escrever, ser escritor, não requer ter lido muito e ter uma relação forte com a história e a tradição literárias. Esta ausência de um vínculo memorial com a literatura é um fenómeno completamente novo.
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há hoje um fenómeno novo que é o dos escritores que não parecem estabelecer um vínculo com o que veio antes deles, que parecem escrever sem ter verdadeiramente lido. Por isso, mas também por outros motivos (faltam os espaços para publicar e desapareceram as solicitações), é cada vez mais rara a crítica de escritores, isto é, os textos de escritores sobre os livros de outros escritores.
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Ainda no Público/Ípsilon de 27.Jun.2014, por António Guerreiro, 
«Uma poesia de alcance intempestivo, que salta para fora do seu tempo de maneira a interrogá-lo e a resgatar o que nele se perdeu.
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quase uma aposta de um místico sem mística, como se o poeta carregasse consigo o destino da humanidade e sofresse, de maneira mais trágica do que qualquer outro indivíduo, o golpe de “misericórdia dos mercados”. Se tudo isto fosse declinado de maneira ingénua, à maneira de uma celebração da transcendência da palavra poética e do canto dos poetas, seria insuportável. Mas o que aqui temos é outra coisa, onde não falta a consciência de si. E o resultado tem algo de intempestivo, na medida em que se projecta, implicitamemente, contra a poesia do desencanto do mundo e de si mesma, contra o ascetismo prosaico que suspendeu toda a crença no “estado de poesia” — uma versão profana do “estado de graça”.
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