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Tornou-se evidente que a sociedade de controle (que todos nós sabemos hoje muito bem o que é, mesmo sem a ajuda de mediações teórico-filosóficas) desenvolveu a produção de bens e serviços imateriais e um modelo ético baseado na competição e no sucesso que deu origem a um fascismo empresarial. Na relação das empresas com os seus “colaboradores” (este novo nome para os trabalhadores vale como um sintoma), o clima é friendly, o chefe não é um patrão, mas um líder, e a “cultura” empresarial que se constrói é sempre de colaboração e a-conflitual, orientada para uma “missão” e determinada por uma “visão”. Por trás, sustentando esta “cultura”, está o medo, não o grande medo inculcado pelo fascismo tradicional, mas os pequenos medos que o novo fascismo gere e multiplica. A experiência do medo é o factor primeiro deste novo fascismo e está hoje generalizado, em todos os ambientes de trabalho, até nas empresas mais liberais. O novo fascismo, organizando estrategicamente as pequenas inseguranças que alimentam medos (antes de mais, o medo de ser despedido), apresenta-se como um pacto para a segurança, para a gestão de uma paz angustiante, fazendo de todos nós – e muito particularmente todos os colegas de trabalho – microfascistas. E há, depois, o novo fascismo cultural, a lógica da uniformização. Não através da anulação das diferenças entre os indivíduos, como o velho fascismo, mas produzindo uma homologação a partir da produção de diferenças (tudo é diferente, exactamente para que tudo seja igual).
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