segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
sábado, 11 de janeiro de 2020
Miguel Sousa Tavares conta mal e não fala melhor
Tenho presente uma conversa na telefonia, há meia dúzia de anos, em que Miguel Sousa Tavares, jornalista veterano e escritor, falava do empenho máximo — cuidado com erros de português, verificação atenta dos factos — com que prepara a página que desde Janeiro de 2006 assina todos os sábados no Expresso.
Pois bem:
«[...]
Quando a minha avó morreu, em 1967, ... havia dois canais de TV em Portugal: um passava o telejornal e o "Bonanza", o outro a missa e a "TV Rural".
[...]»
Da avó nada sei, mas lembro-me da RTP em 1967, tinha ele 15 anos e eu 14.
Missa, Bonanza e TV Rural, todas as semanas; Telejornal, diariamente. E continuariam no mesmo canal — RTP 1 — após 25.Dez.1968 quando já havia dois; eucaristia, faroeste e «despeço-me com amizade» sempre ao domingo.
Ainda Miguel Sousa Tavares, jornalista e escritor:
«E a Pedro Santana Lopes aplica-se como uma luva os versos do fado de Amália»
aplicam-se
«De resto, além de coleccionarem "apoios" para que o país se está nas tintas e de caciquarem as bases, confundindo-as com o país, nenhum deles avançou até agora com a mais pequena, insignificante, modesta ideia de como servirem Portugal.»
Arrebicarem, de arrebique; alambicarem, de alambique; clicarem, de clique; repicarem, de repique; despicarem, de despique…
Caciquarem, de cacique, valha-nos Santa Carameca!? Ó doutor Miguel Sousa Tavares, que javardice de gramática é essa?
«Os portugueses têm à partida uma desconfiança de quaisqueres políticos, de quaisqueres políticos! Isso faz parte do bota-abaixo de café.»
quaisquer ... quaisquer, chiça!
«E portanto, quando ele [presidente da Coreia da Norte] agora oferece aos amaricanos o desmantelamento das instalações nucleares, ele está a oferecer uma coisa que já existe.»
americanos
«Sérgio Moro interviu directamente a favor da campanha do Bolsonaro como já tinha intervido a favor do impeachment da Dilma.»
interveio ... intervindo, foda-se!
É isto um escritor esmerado? É isto um jornalista escrupuloso?
O pior, insisto, é o perigo de crianças por perto.
O pior, insisto, é o perigo de crianças por perto.
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Gamártica,
Miguel Sousa Tavares,
Rigor
Amor com amor se paga
- Se vieres ao meu funeral prometo que irei ao teu.
Achava absoluta e universalmente inexequível um mútuo destes até ao dia em que Afonso de Melo, por sinal dos que mais bem escrevem nos jornais portugueses, me trouxe notícias do Gana:
«[...] Os ga* gostam de ir aos enterros uns dos outros. [...]»
D. Esperança, que é quem morrerá por último, vai ao funeral de toda a gente.
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
Correio celestial
«A caixa de correio de Nossa Senhora
Há um arquivo com mais de oito milhões de documentos onde está escrita uma parte relevante da história recente de Portugal. São cartas enviadas, ao longo de décadas, para o Santuário de Fátima com Nossa Senhora no remetente.
O Expresso teve acesso a esse acervo*, que revela agora em primeira mão.»
Imprudente, escrevi aqui, em 26.Mai.2017: «OK, a Senhora não escreveu nada».
Tivesse consultado o jornalismo de referência credível e não incorreria em tão temerária afirmação.
Afinal, é o Expresso a asseverá-lo, a Senhora não pára de escrever...
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* acesso a esse acervo é coisa que soa a çççç, não contando com o ç de soa, a este destinatário que com atenção lê, humildemente escuta e respeitosamente se subscreve, com os melhores cumprimentos,
Plúvio.
Em tempo
«Rectificação
No último número da Revista, a chamada de capa do artigo sobre as cartas de Fátima continha um erro: onde se lia "remetente" deveria ler-se "destinatário". O Expresso apresenta as suas desculpas aos leitores.» - Expresso, 11.Jan.2020
Rectificação feita — só lhes fica bem —, restará saber onde arranja a Senhora, entre a lida do céu e a realização de milagres, tempo para ler tanta tralha...
Quanto às quejandas desculpas, remeto eu agora para ali.
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* acesso a esse acervo é coisa que soa a çççç, não contando com o ç de soa, a este destinatário que com atenção lê, humildemente escuta e respeitosamente se subscreve, com os melhores cumprimentos,
Plúvio.
Em tempo
«Rectificação
No último número da Revista, a chamada de capa do artigo sobre as cartas de Fátima continha um erro: onde se lia "remetente" deveria ler-se "destinatário". O Expresso apresenta as suas desculpas aos leitores.» - Expresso, 11.Jan.2020
Rectificação feita — só lhes fica bem —, restará saber onde arranja a Senhora, entre a lida do céu e a realização de milagres, tempo para ler tanta tralha...
Quanto às quejandas desculpas, remeto eu agora para ali.
Direito premial, sim ou sopas?
«[...]
A minha opinião é claríssima: a delação premiada é uma prática abominável, que qualquer Estado de direito deveria liminarmente rejeitar. [...]
A denúncia premiada traz ao de cima a podridão que as sociedades escondem por vergonha.
[...]»
E, por exemplo, na Alemanha?
«[...]
Até finais dos anos 70 do século passado, na Alemanha não havia qualquer tipo de negociação em termos de julgamentos criminais: nem do tipo do plea bargain americano, nem da delação premiada brasileira, nem fosse o que fosse. Os julgamentos iam-se fazendo.
As primeiras negociações informais de sentenças a troco de confissões terão surgido por diversos factores, mas não há dúvidas de que um deles foi o aumento de crimes de grande complexidade, especialmente crimes “de colarinho branco”, que exigiam muito maior trabalho de investigação e de complexa recolha de prova do que os tradicionais crimes como o roubo, o furto e os homicídios. [...]
Tornou-se evidente que o processo penal na Alemanha, em que todas as provas devem ser apresentadas, lidas e discutidas em julgamento, não estava preparado para lidar com os complexos casos de crimes económicos, em que as provas são, muitas vezes, uma imensa quantidade de dados e documentos com a audição de um sem-número de especialistas e testemunhas. A morosidade da justiça tornava-se insuportável. [...]
Em Portugal, estes desvarios da exótica Alemanha, seguramente reminiscentes da Stasi e da PIDE, nunca serão permitidos graças à nossa florescente indústria da morosidade e da impunidade.*»
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* Quantas fotografias de figurões que por aí vicejam o amável leitor consegue enfiar nesta frase? Dezenas várias?
Isso ou muito mais, e coriscos me fulminem se me veio à lembrança Manuel Pinho...
Isso ou muito mais, e coriscos me fulminem se me veio à lembrança Manuel Pinho...
sábado, 4 de janeiro de 2020
O efeito Bobadela*
Enquanto a Austrália arde, a Indonésia submerge e a guerra não começa, vivo no melhor lugar do mundo.
«Aquilo não é propriamente o bairro da Jamaica, não estamos a falar ali da Bobadela.»
«Esta classe média que era pobre antes de se tornar média, se mora na Bobadela não quer ir morar para os Olivais. Quer é instalar-se em Nova Iorque.»
«Este John Travolta da Bobadela está a coisa mais linda do mundo!»
«O arraial da Bobadela, do Algueirão e de Caxias. Os santos populares nos subúrbios.»
«Eu já comecei a aceitar a Bobadela na minha vida.»
//
Moro na Bobadela, concelho de Loures [não confundir com esta Bobadela, esta Bobadela ou esta Bobadela], desde 1981.
Vivem aqui sportinguistas, indianos, brancos, chineses, pretos, testemunhas de Jeová e alentejanos simpáticos, em proporção harmonizada.
A Bobadela é um sítio soalheiro e arranjado. Tem uma pastelaria óptima a que o meu amigo João chama "a Versailles da Bobadela" e dois restaurantes supimpas: este e este onde ainda hoje almocei umas belas lulas grelhadas. E, não menos importante, tem o Elias.
Tejo a Sul, Trancão a Oeste, Centro de Acolhimento para Refugiados e Jerónimo de Sousa a Norte, que mais posso querer?
E portanto não tenho a menor dúvida devo dizer à dona Clara Ferreira Alves: «E se falasse ali do Caralho, que fica no enfiamento do Páteo Bagatela** de quem está de costas para a civilização»?
Fodam-se igualmente Ana Marques, Paulo Farinha e Xana Alves que nunca deverão ter posto cá os pés. Paulo Farinha, jornalista que prezo, teria obrigação de averiguar que arraiais de santos populares na Bobadela, azar seu, não são costume.
E não, caro e persistentemente formidável [como ainda ontem - "Às ordens do cliente"] António Guerreiro, confirmo que não me apetece nada «ir morar para os Olivais», mas muito menos para Nova Iorque.
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* Os kikos de Cascais dizem conceito.
** Eis a incomodada senhorita clamando no melhor semanário nacional contra a favela onde reside:
«[...] tudo, rigorosamente tudo, mudou para pior desde que lá comecei a morar. […] Recapitulando, nesta imundície não se consegue respirar. Não se consegue estacionar. Não se pode protestar. Não há um canto que não tenha buracos, pedras da calçada fora do sítio, desnivelamentos e armadilhas para os velhos. As baratas deslizam no Verão.
[...]»
Clara Ferreira Alves, "Tu és a revolução" | Expresso/E, 29.Set.2017
«[...] tudo, rigorosamente tudo, mudou para pior desde que lá comecei a morar. […] Recapitulando, nesta imundície não se consegue respirar. Não se consegue estacionar. Não se pode protestar. Não há um canto que não tenha buracos, pedras da calçada fora do sítio, desnivelamentos e armadilhas para os velhos. As baratas deslizam no Verão.
[...]»
Clara Ferreira Alves, "Tu és a revolução" | Expresso/E, 29.Set.2017
Ó doutora, saia da merda, a vila de Bobadela acolhê-la-á. Até rima com Bagatela e tudo...
Só para dar um cheirinho, veja-me a pinta desta sala de estar. Que tal? Por que espera? Venha, não se acanhe que eu apresento-a ao condomínio.
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Ouvi, lede e ride
... e dizei-me se estes seis minutos e meio — Alberto Gonçalves, "O presidente, o comendador e o atraso de vida" | podcast "Ideias Feitas", Observador, 02.Jan.2020 — não vão lindamente com a partitura magistral [a alegria, essa é visível de ver], mais uma, de
No caso de RC, confesso, casquinei. Salvou-me o sábado.
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Mais sabei, se o não souberdes já, que João Taborda da Gama, ainda que (ainda) não afamado por isso, escreve muito bem e tem graça. Atentai, por exemplo, no balanço soft-core desta carruagem:
«[...]
E quando disse que se despia toda logo que entrava no comboio voltou a cruzar o olhar com o meu, ... talvez por isso, e porque já tinha falado em se despir, e tinha mostrado a roupa interior, sentiu necessidade de trazer respeito à coisa e contou do marido, um chato [...]»
E quando disse que se despia toda logo que entrava no comboio voltou a cruzar o olhar com o meu, ... talvez por isso, e porque já tinha falado em se despir, e tinha mostrado a roupa interior, sentiu necessidade de trazer respeito à coisa e contou do marido, um chato [...]»
Não tendes de agradecer. É um gosto. Pago as assinaturas.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
Leite frívolo faz bem à febre
Vivemos permanentemente na vanguarda. Não há outro tempo.
O que não impede que com o comando inoperativo se recorra a um fuzileiro para sintonizar a TV ou, quando a pilha do relógio acaba, se dê corda aos sapatos para ver as horas nele. Nada de comparável, porém, com o doutor Mira que acertava tão em cheio nos diagnósticos que os diagnósticos caíam fulminados enquanto ele aproveitava para bater em retirada que nunca apresentava queixa, sendo sabido que sem queixa da retirada a justiça não pode intervir, pois, tal como o azeite, a truta comes always up. Quanto à obesidade, trata-se de patologia de perímetro abdominável de que a bariatria trata.
O que não impede que com o comando inoperativo se recorra a um fuzileiro para sintonizar a TV ou, quando a pilha do relógio acaba, se dê corda aos sapatos para ver as horas nele. Nada de comparável, porém, com o doutor Mira que acertava tão em cheio nos diagnósticos que os diagnósticos caíam fulminados enquanto ele aproveitava para bater em retirada que nunca apresentava queixa, sendo sabido que sem queixa da retirada a justiça não pode intervir, pois, tal como o azeite, a truta comes always up. Quanto à obesidade, trata-se de patologia de perímetro abdominável de que a bariatria trata.
Nisto, be bica fé nazareias da Nazaré, ou seja, bica e café. A seguir, ia para comprar uma chávena suíça mas acabei por comprá-la na Itália à Natália, e nunca por nunca seria eu a agravar o estigma do Sado chamando-lhe rio masoquista, coisa que Aga Khan* jamais consentiria. Aprendi que quando estamos com pressa nada como um maracujá — o maraculogo leva tempo a descascar e quando vamos embora, embora contrariados, há que ter cuidado porque o dicionário diz que "ir à vida" pode ser o mesmo que morrer e que mudança de residência é sempre mudança de morada. Nestas circunstâncias acode-me à lembrança o desgraçado que não resistiu às manobras de reanimação com que o INEM tentou durante duas horas salvá-lo.
* Voz de além:
Aga quem?
Foi em tais lucubrações que descobri certas e indeterminadas coisas: a letra do contra-rótulo das garrafas raramente é garrafal, crítico de críquete dá ares de profissão engraçada, mas só ao levantar-me de cagar é q'li «Clique no autoclismo» e pensei «Tempos modernos...»**. A propósito de clicar, sempre que o sistema operativo arranca o computador diz-me «Bem-vindo» e eu acho que o que ele devia era dizer «Bem-windows». Como diz o outro, «Antes alfa pendular do que ómega irregular». Agora e sempre, nada como tu comigo e eu contíguo. E se o povo não diz devia dizer: «Na vida não há mal que sempre dure e na feira farinha que não dê em farture.»
Tenho um metro e sessenta e sete mas desconfio de que não é só por isso que me puseram a alcunha de "Acrónimo, o minorca, palíndromo de si mesmo".
Sendo certo que todo o bom alibi iliba, é bastante provável que a inspiração glugluglugluglu debaixo de água — quando Chove é diferente — não seja grande coisa e que a seguir a um 2 mil e 20 bissexto venha um 2 mil e 21 bissétimo, posto o que não posto mais nesta frivolidade, ai, Manuela!
E para que não digam que Plúvio não está sub til, tomem:
~
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** Sofisticação tecnológica vs. arqueologia linguística:
Isto, sim, era puxar.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
«Hoje já disseste alto o nome dos teus mortos?»
Digo-os por dentro a toda a hora.
Quase nada seria sem os que me morreram, antes e ao lado de mim.
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Gonçalo M. Tavares,
Morte
segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
Tabela Periódica [Expresso, Fev.2011-Dez.2019]
Última TP - 228:
Devo-lhe, senhor engenheiro Jorge Calado, enorme gratidão.
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Jorge Calado
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
Conto de Natal
Faz um mês — "Sara atirou o filho ao lixo" —, trouxe aqui o caso.
Hoje, nos 50 dias de vida do puto, José Miguel Gaspar publica no Jornal de Notícias uma peça impressiva que vai bem com sensibilidades natalícias e, espera-se, com a verdade:
«[...] Ababelados, meio zonzos, sem saber outra vez o que fazer, João repara que o Rui tinha a cara subitamente fechada e olhava-o de olhos selados, muito sério. Ele aproxima-se, diz-lhe algo que vai ter que repetir - "temos que agradecer, João" - porque a voz se lhe engasgou e seguem os dois em direcção à Igreja de Santa Apolónia. [...]
não ia ficar ali a ouvi-lo a mentir *
[...]»
Obrigado, José Miguel Gaspar. Gostei de «ababelados».
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* Sem novidade, um dos que foram logo lá para abraçar e ouvir o intrujão foi o presidente-arlequim, que parece funcionar num desopilante regime de ejaculação precoce perpétua. No repertório fértil e vistoso de virtudes, há pelo menos duas, presuntivamente canónicas no cargo, em que Marcelo não abunda: gravitas e prudência.
Outros a quem o Xavier intrujou e comoveu — foi na CMTV, quase apetece dizer Muito bem feito! — foram estes e, através destes, o país.
Etc.
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Marcelo Rebelo de Sousa
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