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Em vez de compensar a penúria, o transe dos adeptos empresta-lhe um ar patético. Se, a pretexto de meia dúzia de remates, era tonto proclamar a "nossa" superioridade durante o desafogo de 2004 (mesmo que o desafogo fosse assegurado pelas nações às quais nos afirmávamos superiores), é quase grotesco repetir a brincadeira num momento em que a única característica nacional reconhecida além-fronteiras é a dependênda. Ou, desculpem lá a franqueza, a inferioridade.
No mínimo, a atitude é similar à do sujeito diagnosticado com uma doença maligna que celebra o excelente lugar de estacionamento junto ao hospital: fui despedido e arrisco-me a perder a casa, mas pelo menos a selecção marcou dois golos à Holanda. Por mim, espero que a selecção não marque golos a ninguém e regresse cedo. Em parte porque não dispenso o sossego posterior a uma boa eliminação, em parte porque Portugal dispensa o espectáculo de uma alegria sem fundamento, sobretudo quando esta ajuda a esquecer uma tristeza muito bem fundamentada.
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