terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Capitalismo, sono e luze-cus

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O resultado extremo desta regra implacável que exigiu uma mobilização total, uma guerra do capitalismo contemporâneo contra o sono, é analisado por Jonatham Crary, crítico de arte, ensaísta e professor universitário em Nova Iorque, num livro recente que se intitula 24/7: Late Capitalism and the Ends of Sleep. Um mundo que funciona 24/7, non-stop, 24 horas nos sete dias da semana, de onde foram erradicados o escuro e as sombras, sem alternância do dia e da noite, anula finalmente a maior afronta à voracidade do capitalismo: o sono. Dormir é uma interrupção do tempo do consumo, do trabalho e do “empreendedorismo”. Depois da expansão geográfica, de todas as regiões do planeta serem conquistadas, só restava ao capitalismo a possibilidade da expansão temporal: a conquista do tempo inútil do sono. […] Pier Paolo Pasolini. É dele um texto de Fevereiro de 1975, publicado no Corriere della Sera, que ficou conhecido como o articolo delle lucciole, o artigo dos pirilampos, onde analisa a situação política do seu tempo a partir desta verificação: os pirilampos desapareceram dos campos por causa da poluição química e da poluição luminosa (a claridade dos “ferozes projectores”).
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* Inclui “Do lado da ironia”, recensão de Cinza, livro de poesia de Rosa Oliveira, a que António Guerreiro dá cinco estrelas [decerto por erro ou negligência inocentes...pois cheira-me, pelo tom e a esta proléptica distância - riso, s.f.f. -, que AG não quereria dar tanto]:

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Nunca a poesia de Rosa Oliveira se desliga da prosa do mundo, por mais que ouse alguns flirts com algo que a supera. Ela pratica, de certo modo, uma arte do recuo, traça com grande racionalidade os seus territórios, acaba por ser uma elegia da própria poesia, quase um túmulo do poeta que se vê obrigado a declinar os seus tempos sombrios como uma “longa marcha para a mediania”.
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