«[…]
a
peça acaba por ser muito mais um poema — um poema como os de Artaud, “um homem
que, como diria Herberto Helder, tinha as correntes da terra ligadas às
correntes do poema”, diz Vera —, já que a poesia tem um pacto antigo
com o silêncio. Não entendamos, por poesia, aquela coisa enfática e decorativa
que faz as delícias das almas sensíveis, sempre à beira da exclamação patética,
mas a palavra que recebe e transmite vibrações extremas, “as correntes da terra”.
Se quisermos, o solo da Vera também pode ser um romance, uma ficção
antropológica (“antropologia ficcional”, chamou-lhe ela, convidando o
espectador a não acreditar em tudo o que ouve).
[…]
a
peça faz-nos sentir que nós, homens modernos, perdemos os nossos gestos, como disse
um filósofo. Os gestos mais simples e quotidianos tornaram-se estranhos ou
foram absorvidos por uma máquina negativa.
[…]»
António Guerreiro, “Onde é a serra do Caldeirão?”
«A novidade implícita no conceito e nas experiências da media art,
da qual Peter Weibel é o mais importante teorizador, tornou-se a regra da arte contemporânea
que, por isso, pode ser dita pós-media.
“Inter(in)venção”,
a exposição de media art no Fórum Eugénio de Almeida, em Évora, provém da
colecção de uma instituição – o ZKM de Karlsruhe – que é provavelmente a mais importante da Europa no domínio da
investigação dos novos media e da relação da arte com a tecnologia (ZKM é o
acrónimo de Zentrum für Kunst und Medientechnologie). O ZKM é também um museu,
mas é muito mais do que isso. […]» *
António Guerreiro, “A arte sob a condição dos
novos media”
E ainda António Guerreiro, “Naquele exílio da prosa”, recensão de Numerosas Linhas — Livro de Horas III, de Maria Gabriela Llansol, Assírio & Alvim:
«Mais
um volume dos diários de Maria Gabriela Llansol, que ilumina não apenas o
trabalho da escrita mas também os dias difíceis que a escritora viveu na
Bélgica e as duras contingências da sua vida material. […]» **
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* «Agora, desde o final de Novembro, o
novo fórum tem uma exposição mais lúdica, intitulada Inter[in]venção,
claramente dirigida a um público mais alargado e que consegue trazer ao
Alentejo a colecção do ZKM – Centro para as Artes e Media de Karlsruhe,
mostrando trabalhos históricos de media art,
uma área da arte contemporânea que não é assim tão comum poder ver-se em
Portugal.»