segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Rogério Casanova

 “Pastoral Portuguesa

- 'Pequenas histórias de vidas banais' – demolição de Inês Pedrosa a propósito do Nobel atribuído a Alice Munro.

«[…] mais uma edição do ritual escandinavo que consiste em atribuir o Nobel da Literatura a uma pessoa que uma segunda pessoa acha menos merecedora que uma terceira pessoa […] Por cá, a questão foi devastadoramente examinada por Inês Pedrosa que, numa crónica publicada no Sol, começou por descansar toda a gente, garantindo que Alice Munro 'não desmerece' o prémio, uma vez que é uma 'boa escritora'. E é, de facto.

[…] 

Neste momento, algures no Paraguai, no Uganda ou na Bobadela*, uma criança pode estar a ter uma ideia revolucionária para um conto de 15 páginas. Não será precipitado continuar a atribuir prémios  cegamente enquanto não confirmarmos essa e outras hipóteses? […]»


- ‘Consultório literário

«[…] E o mais inteligente e sofisticado dos irmãos Belmonte, na recente telenovela da TVI com o mesmo nome, foi apanhado em flagrante logo no 1.º episódio a ler o Hamlet. Como gritou o seu interlocutor, com justificadíssimo pasmo: “Shakespeare no Alentejo! Quem diria?!”»


Providências para sobreviver num mundo menos fantástico”, sobre Mason & Dixon, de Thomas Pynchon, «[…] dos romances históricos, […] o mais exuberante, o mais alegre, o mais comovente; o que tem o final mais serenamente optimista – e mais triste. É talvez o melhor romance de Pynchon, embora seja o mais atípico, o menos pynchoniano. […] Além de diálogos entre relógios, um pato mecânico apaixonado por um cozinheiro francês, e várias brigas de bar, destaca-se uma esplêndida cena de coito interrompido culminando em autodefenestração. […]»

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* Só muito improvavelmente se tratará desta Bobadela, desta Bobadela ou desta Bobadela, rurais, interiores e discretas, todas demasiado longe da grande cidade e arredias do pensamento de urbanos cultos, de bem e de gosto, como o magnífico, apesar de sportinguista fanático, Casanova. Arrisco até que o nosso ectoplásmico Rogério desconheça aquelas e pouco ou nada saiba destoutra quarta Bobadela portuguesa, esta sim, cronicamente arrolada com efeito ressonante na retórica da  geodesqualificação [exemplo], a par da Buraca e do Miratejo, jamais – porque será? Mistérios do organismo… - a par do Estoril e de Carcavelos. Pois saiba-se que, sem prejuízo e além do hipotético Nobel que já nasceu ou há-de nascer aqui – sim, moro na Bobabela -, esta Bobadela não é um Cascos de Rolha qualquer: tem, para lá de outras coisas óptimas que aqui , o senhor Amaral, o senhor Elias e a dona Mina; ruas limpas e arranjadas; o melhor restaurante no hemisfério norte; a melhor pastelaria do mundo, incluindo todas as pastelarias da Bobadela; o Tejo, ainda mais largo do que passa por Lisboa; a mais bonita casa para estar com o cabrão do Alzheimer e morrer dele; 15 multibancos e 80 carreiras diárias, rodoviárias e ferroviárias, para a civilização 10 minutos a sudoeste, as mesmas 80 carreiras diárias à disposição de Lisboa para conhecer um lugar feliz, com farmácia, 10 minutos a nordeste.

Não fosse o sacana do alpinista que todos os natais nos vem desassossegar, a Bobadela até que seria um dos sítios mais recomendáveis do planeta. Logo a seguir ao Paraguai e ao Uganda, claro.