“Pastoral
Portuguesa”
- 'Pequenas histórias de vidas banais' – demolição de Inês Pedrosa a propósito do
Nobel atribuído a Alice Munro.
«[…] mais uma edição do ritual escandinavo
que consiste em atribuir o Nobel da Literatura a uma pessoa que uma segunda
pessoa acha menos merecedora que uma terceira pessoa […] Por cá, a questão foi
devastadoramente examinada por Inês Pedrosa que, numa crónica publicada no Sol,
começou por descansar toda a gente, garantindo que Alice Munro 'não desmerece' o prémio, uma vez que é uma 'boa escritora'. E é, de facto.
[…]
Neste momento, algures no Paraguai, no Uganda
ou na Bobadela*, uma criança pode estar a ter uma ideia revolucionária para um
conto de 15 páginas. Não será precipitado continuar a atribuir prémios cegamente enquanto não confirmarmos essa e
outras hipóteses? […]»
- ‘Consultório literário’
«[…] E o mais inteligente e sofisticado dos
irmãos Belmonte, na recente telenovela da TVI com o mesmo nome, foi apanhado em
flagrante logo no 1.º episódio a ler o Hamlet. Como gritou o seu interlocutor,
com justificadíssimo pasmo: “Shakespeare no Alentejo! Quem diria?!”»
“Providências para sobreviver num mundo
menos fantástico”, sobre “Mason & Dixon”, de Thomas Pynchon, «[…] dos romances históricos, […] o mais exuberante, o mais
alegre, o mais comovente; o que tem o final mais serenamente optimista – e mais
triste. É talvez o melhor romance de Pynchon, embora seja o mais atípico, o
menos pynchoniano. […] Além de diálogos entre relógios, um pato mecânico
apaixonado por um cozinheiro francês, e várias brigas de bar, destaca-se uma
esplêndida cena de coito interrompido culminando em autodefenestração. […]»
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* Só muito improvavelmente se tratará desta Bobadela, desta Bobadela ou desta Bobadela, rurais, interiores e discretas, todas demasiado longe da grande cidade e arredias do pensamento de urbanos cultos, de bem e de gosto, como o magnífico, apesar de sportinguista fanático, Casanova. Arrisco até que o nosso ectoplásmico Rogério desconheça aquelas e pouco ou nada saiba destoutra quarta Bobadela portuguesa, esta sim, cronicamente arrolada com efeito ressonante na retórica da geodesqualificação [exemplo], a par da Buraca e do Miratejo, jamais – porque será? Mistérios do organismo… - a par do Estoril e de Carcavelos. Pois saiba-se que, sem prejuízo e além do hipotético Nobel que já nasceu ou há-de nascer aqui – sim, moro na Bobabela -, esta Bobadela não é um Cascos de Rolha qualquer: tem, para lá de outras coisas óptimas que aqui há, o senhor Amaral, o senhor Elias e a dona Mina; ruas limpas e arranjadas; o melhor restaurante no hemisfério norte; a melhor pastelaria do mundo, incluindo todas as pastelarias da Bobadela; o Tejo, ainda mais largo do que passa por Lisboa; a mais bonita casa para estar com o cabrão do Alzheimer e morrer dele; 15 multibancos e 80 carreiras diárias, rodoviárias e ferroviárias, para a civilização 10 minutos a sudoeste, as mesmas 80 carreiras diárias à disposição de Lisboa para conhecer um lugar feliz, com farmácia, 10 minutos a nordeste.
Não fosse o sacana do alpinista que todos os natais nos vem desassossegar, a Bobadela até que seria um dos sítios mais recomendáveis
do planeta. Logo a seguir ao Paraguai e ao Uganda, claro.