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o debate sobre o AO90 nunca foi aberto, por isso é um erro mencionar-se uma reabertura. Aquilo que houve foi uma imposição. Aliás, a consequência imediata da escassez de sessões de esclarecimento e da abundância de propaganda é uma maior permeabilidade de leitores de português europeu em relação a opiniões, digamos, peculiares.
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Como é sabido, a Assembleia da República não tem percebido — ou não tem querido perceber: nesta matéria, como noutras, a doutrina diverge — as provas apresentadas sobre a supremacia dos defeitos do AO90 em relação às suas hipotéticas virtudes e as gritantes diferenças entre a quimera de um acordo ortográfico em abstracto e o desastre AO90 em concreto. Aliás, os actos e omissões deste órgão de soberania em relação a esta matéria podem ser apresentados como um excelente exemplo de assimetria entre a vontade do eleitor e a atitude do eleito.
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tudo isto em nome de quê? De uma alegada unidade internacional do português — que não existe, não passou a existir e, naturalmente, nunca existirá com o rigor burocrático que alguns lhe querem emprestar à força.
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Chegados aqui, ao ridículo de Portugal ter tornado obrigatória uma ortografia que mais ninguém desse continente imaginário chamado Lusofonia aplica ou leva a sério, com um Presidente da República a ter o bom-senso de prever a "reabertura" de um debate que não houve, os defensores do AO, enretanto mais afónicos, jogam outra cartada: as criancinhas. Depois de tudo, que não se lhes perdoe agora invocarem o nome das criancinhas em vão.»