A doutora Sara Belo Luís, subdirectora da Visão, põe na boca do doutor António Mega Ferreira, entrevistado na edição de 29.Ago.2019, a seguinte afirmação:
«Lucca, uma pequena cidade da Toscânia, com a sua torre, é absolutamente deslumbrante.»
Toscana, doutora Sara, cidade da Toscana!
De resto, custa-me crer em que o rato Mega, italianófilo de primeira, tenha pronunciado calinada tão tosca.
A despropósito, está a apetecer-me meter com o sportinguista socialista acordita Francisco Seixas da Costa, papa-poleiros apessoado e bem-falante, escriba de múltiplos poisos, bom garfo, que acompanho com regularidade e com quem por vezes concordo. O emérito embaixador termina assim o verbete de ontem no seu "duas ou três coisas": «[...] É esta afabilidade, esta forma aberta de estar com as pessoas, que me agrada em Fernando Mendes. É isso também que me leva a congratular-me que o “Preço Certo” possa continuar a ser o lugar geométrico onde, ao final da tarde, um certo Portugal se junte para passar uma hora divertida, fora das preocupações da vida, unido por alegrias simples e inócuas. Fazer as pessoas felizes é também serviço público. [...]».
1- Como se pode defender assim um dos mais notórios, antigos e persistentes programas de cloroformização da inteligência colectiva?
2- Não digo que Seixas da Costa devesse realçar, entre os inquestionáveis atributos de simpatia do apresentador, a consabida lagartice de ambos, mas parece-me feio que não tenha refrescado junto dos leitores do blogue a sua condição, nada desinteressada neste caso, de membro do Conselho Geral Independente da RTP. Curial, não?
3- Que merda de português é aquele de se levar a congratular-se? Um de duas: que me leva a congratular ou que leva a congratular-me.
A despeito do prestígio paroquial e da consideração em que se tem na escrita, a gramática de Seixas da Costa deixa a desejar. Exemplos ao acaso: escreve com acento gráfico espúrio palavras como raínha ou ladaínha; acentua sempre e indevidamente o juíz; grafa as formas do verbo desfrutar com calamitoso dis: disfruta, disfrutam, disfrute; trata impropriamente Israel no feminino e entorse no masculino; inoquidade?; enebriado?; «um dos nóveis governantes»; «talvez nos devêssemos perguntar-se por que razão» [doutor Seixas da Costa, por amor da santa!]; inventou e abusa do infringimento sob caução de um dicionário brasileiro, chegando por tal ousadia a travar-se de razões com o irritado doutor António Borges de Carvalho.
Já agora e por fim, negrito meu,
«A meio da tarde de ontem, num livraria em Vila Real, comprei o livro “O Negociador”, uma longa entrevista da jornalista Bárbara Reis ao embaixador Fernando Neves. Agora, pela madrugada, lidas atentamente as suas 430 páginas, em cerca de quatro horas, dou comigo em “balanços”. [...]»
Não quererá o prodigioso diplomata explicar-nos, à plebe inepta, como conseguiu ele ler atentamente este cartapácio de 432 páginas em cerca de não mais do que 240 minutos?
Como se não bastassem as provas de que o Criador foi pouco equânime na distribuição das faculdades.
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* Não está nos dicionários, mas dá-me jeito à prosa. Se o doutor Francisco Seixas da Costa pôde no infringimento, porque não hei-de poder na tosquice?
Caro freguês, se não clicou lá em cima n' «o rato Mega» não sabe o que perdeu... Obrigado, João Pedro George. Grande trabalho.
Caro freguês, se não clicou lá em cima n' «o rato Mega» não sabe o que perdeu... Obrigado, João Pedro George. Grande trabalho.