«[…]
Os uxoricidas ou se entregam à polícia ou se suicidam.
Aquilo de que não há notícia é que se tenham suicidado ou entregado à polícia
preventivamente, para não cometerem o homicídio. Em comparação com a violência
política, racial e entre povos e nações, a violência dos homens sobre as
mulheres fornece matéria para o livro negro mais volumoso da história
universal. A lógica social da “dominação masculina” (para utilizarmos o título
de um livro de Bourdieu cuja tradução portuguesa foi publicada pela Relógio d’Água) deixou os seus traços — e de
que maneira! — na linguagem: a ética da virilidade refere-se ao vir, ao virtus.
[…]
As estatísticas mostram que as mulheres entraram em força,
no último século, nos lugares que antes eram dominados pelos homens; e que a
divisão sexual do trabalho se alterou radicalmente. Mas o que as estatísticas
não mostram é que a hierarquia se vai reconstruindo, como as relações de
dominação se restabelecem, de outra maneira, no interior dos territórios
que pareciam ter-se libertado delas. É o que acontece quase sempre nos meios
exclusivos dos gays: reproduzem no seu território princípios de
discriminação que têm como matriz a violência heterossexual.
[…]
Para Weininger – Otto Weininger (1880-1903) -, há uma
equivalência entre a Mulher e o Judeu: ambos são privados de personalidade, privados
de um Eu, falhos de grandeza e de valor próprio. Daí o axioma weiningeriano: “A
mulher mais elevada está infinitamente abaixo do homem mais ínfimo”. Mulheres e
judeus são, do ponto de vista de Weininger, responsáveis pelo declínio do
Ocidente. Weininger era judeu (convertido ao protestantismo) e homossexual.»