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O seu caso é
interessante precisamente neste aspecto: ele mostra na perfeição aquilo a que
alguém já chamou “sociedade do espectral”. Um corpo de star, a sua
produção mágica e maquinal, é a superfície sensível do aparecimento de um
espectro, isto é, o corpo de uma star é uma máquina de produzir a superfície sensível de um
espectro. O glamour só pode ser espectral e fantasmático. E o que é que
esta “sociedade do espectral” tem a ver com o que foi designado como sociedade
do espectáculo? Um texto de Artaud, onde ele diz que se encontra perante
“espectros que querem comandar o real”, talvez nos ajude a responder: a sociedade
do espectáculo tem a sua soberania no poder de controlar os corpos através de
espectros, de marionetas, de stars. O processo tem um correspondente na ideia,
desenvolvida pela primeira vez por Marx, de que a mercadoria é dotada de uma
característica a que ele chamou “fetichismo”. E dá o exemplo de uma mesa: “A
mesa é um objecto de madeira, sensível, comum. Mas quando surge como mercadoria
transforma-se num objecto que é ao mesmo tempo sensível e supra-sensível.” Em
suma: ganha um valor de troca que eclipsa o valor de uso, ganha uma voz que
esconde a sua natureza material. Assim entendida, a mercadoria oferece-se como
uma forma integrada no sistema simbólico da sociedade que a produziu. E é por
isso que os objectos são portadores de significações sociais, trazem consigo,
nos seus mínimos detalhes, uma hierarquia cultural e social. A lógica da
mercadoria, que se estendeu, com o seu poder expropriador, a todos os domínios
da vida social e até à linguagem, representa um grande espectáculo a que todos
nós — e não apenas o Justin Bieber — estamos submetidos. Com os novos sistemas
de controlo informático, o olhar do outro ganhou agora o alcance de um
panóptico de escala planetária.»