- Luís Miguel
Oliveira, “Um homem no labirinto do Holocausto” [Inclui conversa
telefónica com Claude Lanzmann]
- José Marmeleira,
“Diante de Shoah, o
espectador transforma-se num homem”
- António
Guerreiro, “Uma metafísica das imagens - Com Shoah,
Claude Lanzmann quis construir um 'monumento' que mostra os sobreviventes do
Holocausto entregues à trágica experiência de trazerem para o presente um
passado que não passou.”
«[…] no filme de Lanzmann, Shoah, perpassa o discurso do irrepresentável ou do interdito da representação, de tal modo que, nele, como observou Jacques Rancière num texto incluído no volume citado, L’Art et la Mémoire des Camps, o que há a representar não são os carrascos e as vítimas, é o processo de uma dupla supressão: a supressão dos judeus e a supressão dos rastos da sua supressão.
«[…] no filme de Lanzmann, Shoah, perpassa o discurso do irrepresentável ou do interdito da representação, de tal modo que, nele, como observou Jacques Rancière num texto incluído no volume citado, L’Art et la Mémoire des Camps, o que há a representar não são os carrascos e as vítimas, é o processo de uma dupla supressão: a supressão dos judeus e a supressão dos rastos da sua supressão.
[…]
Esta estética
negativa, como sabemos, aproxima-se perigosamente da noção de sublime. O
Holocausto como objecto sublime por excelência — eis o ponto a que se chega
depois de se dar a volta pelo “irrepresentável” e “inimaginável” do horror. E
isso tanto dá origem a uma estética negativa (a de Lanzmann) como a um kitsch erudito (que se fixa no paroxismo
do irrepresentável e não consegue esconder uma ambígua exaltação face a ele).
Num livro de 1998, Quel che resta di Auschwitz, Giorgio Agamben
criticava todo o discurso que envolve Auschwitz de uma aura carregada de poder
extático e sacralizador. Nesse discurso, via ele a intromissão de categorias
teológicas que fazem do Holocausto uma nova teodiceia: Que Auschwitz tenha sido um fenómeno
único (pelo menos, em relação ao passado, quanto ao que o futuro nos reserva só
podemos ter esperança) é bastante provável (…). Mas porquê
indizível? Porquê conferir ao extermínio o prestígio da mística? Que espécie de trânsito ou analogia, apesar de todas as
diferenças, podemos descobrir entre esta mística do indizível e a estética
negativa do inimaginável do filme de Claude Lanzmann?»
- António Guerreiro