quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Claude Lanzmann: “Shoah” e “O último dos injustos",

- Luís Miguel Oliveira, “Um homem no labirinto do Holocausto[Inclui conversa telefónica com Claude Lanzmann]
- José Marmeleira, “Diante de Shoah, o espectador transforma-se num homem
- António Guerreiro, “Uma metafísica das imagens  -  Com Shoah, Claude Lanzmann quis construir um 'monumento' que mostra os sobreviventes do Holocausto entregues à trágica experiência de trazerem para o presente um passado que não passou.
«[…] no filme de Lanzmann, Shoah, perpassa o discurso do irrepresentável ou do interdito da representação, de tal modo que, nele, como observou Jacques Rancière num texto incluído no volume citado, L’Art et la Mémoire des Camps, o que há a representar não são os carrascos e as vítimas, é o processo de uma dupla supressão: a supressão dos judeus e a supressão dos rastos da sua supressão.
[…]
Esta estética negativa, como sabemos, aproxima-se perigosamente da noção de sublime. O Holocausto como objecto sublime por excelência — eis o ponto a que se chega depois de se dar a volta pelo “irrepresentável” e “inimaginável” do horror. E isso tanto dá origem a uma estética negativa (a de Lanzmann) como a um kitsch erudito (que se fixa no paroxismo do irrepresentável e não consegue esconder uma ambígua exaltação face a ele). Num livro de 1998, Quel che resta di Auschwitz, Giorgio Agamben criticava todo o discurso que envolve Auschwitz de uma aura carregada de poder extático e sacralizador. Nesse discurso, via ele a intromissão de categorias teológicas que fazem do Holocausto uma nova teodiceia: Que Auschwitz tenha sido um fenómeno único (pelo menos, em relação ao passado, quanto ao que o futuro nos reserva só podemos ter esperança) é bastante provável (…). Mas porquê indizível? Porquê conferir ao extermínio o prestígio da mística? Que espécie de trânsito ou analogia, apesar de todas as diferenças, podemos descobrir entre esta mística do indizível e a estética negativa do inimaginável do filme de Claude Lanzmann?»
- António Guerreiro