quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Povo e populismo

«[…]
Tal entidade — o povo — só existe como uma elaboração ficcional, ou, pelo menos, sob a forma de uma pluralidade de figuras que nada têm a ver umas com as outras: o “povo soberano” da democracia não é a mesma coisa que o “povo jurídico” de Kant; e ambos são diferentes do “povo trabalhador” que o movimento comunista elevou a sujeito da História; e nenhum deles se confunde com o povo definido por uma relação orgânica com o solo e o sangue (de onde advém a ideia de um Volk, que foi, em todo o lado, um mito nefasto e quase sempre criminoso).
[…]
esta esquizofrenia: no mesmo jornal ou na mesma cadeia de televisão onde os directores e responsáveis não se coíbem de fazer discursos contra o populismo político, promove-se e alberga-se o mais descarado populismo cultural, que consiste em fornecer aquilo que é objecto de um consenso fabricado por quem decide o que agrada e interessa ao maior número.»