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O colunismo é o exercício de tentar descrever a realidade sem sair da caverna onde se vive agachado. Adjectiva-se a sombra que daquele ângulo se vê como sendo a verdadeira sombra e o ângulo como o melhor ângulo. O colunista é um artista a soldo de um ângulo, e o seu talento tanto maior quanto mais convincente e tridimensional for a sombra que descreve sem sair do conforto da caverna. O colunismo é a tirania do ângulo que infantiliza o jornalismo: "O meu ângulo é melhor do que o teu!".
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Uma crónica é uma coisa diferente de uma coluna porque não é uma prosa proselitista, é uma tentativa honesta de descrever e partilhar as sombras que se vêem. O cronista é diferente do colunista no sentido em que é um adulto. Tem mais informação. Mais vida. Mais mundo. Já explorou muita caverna e chegou à conclusão de que a caverna é o que menos interessa; de que concordar não é o essencial. O essencial é ver.
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